Por dia, uma pessoa morre vítima da dengue no Brasil (Arquivo/Agência Brasil)
Talita Abrantes
Publicado em 17 de abril de 2015 às 18h47.
São Paulo – Com pelo menos uma morte a cada 24 horas, o avanço da dengue no estado de São Paulo já atinge níveis assustadores. Até o último dia 28 de março, 99 pessoas haviam falecido no estado vítimas da doença. No Brasil, foram 132 óbitos, de acordo com o último levantamento do Ministério da Saúde sobre a evolução da doença.
Apesar dos números alarmantes no estado, surtos de dengue fazem parte da rotina de brasileiros desde o final da década de 1980, quando o processo de urbanização se intensificou no Brasil. Nos últimos dez anos, mais de 6 milhões de casos foram registrados.
“As epidemias se alastram por ondas. Uma hora ela está mais forte em um lugar, outra hora, em outro.Isso acontece de acordo com a presença do vetor e de pessoas que ainda não tiveram dengue”. ”, afirma Amaury Dal Fabbro, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.
As características do mosquito transmissor da dengue explicam parte do desafio para estancar o avanço da doença. “O Aedes aegypti é uma espécie bem adaptada à área urbana, que vive dentro e próximo de domicílios. Isso dificulta o trabalho dos órgãos responsáveis pelo controle”, diz Paulo Roberto Urbinatti, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP.
De acordo com o especialista, população e poder público também têm sua parcela de culpa no cenário seja por não adotar atitudes preventivas em casa (como eliminar possíveis criadouros) ou por não investir adequadamente em saneamento ou fiscalização. “As medidas de controle devem ser tomadas o ano inteiro”, afirma Urbinatti.
No ano passado, apenas metade dos recursos previstos para projetos de pesquisa e capacitação no combate à dengue foram, de fato, empregados para esta finalidade, de acordo com levantamento do site Contas Abertas.
Esta semana, o Ministério da Saúde determinou o repasse adicional de 150 milhões de reais para estados e municípios para iniciativas de combate à doença. Nesta altura do campeonato, a contenção dos danos é o máximo que os governos conseguirão fazer. Entenda o motivo com os números a seguir:
Mais de quatro mil pessoas morreram por causa da dengue no Brasil entre os anos de 2004 e 2014, segundo dados do governo federal. Só em 2013, foram 674 vítimas da doença. Do dia 1º de janeiro até 28 de março deste ano, 132 pessoas já tinham morrido por essa razão.
Nos últimos dez anos, em média, 73 pessoas foram diagnosticadas com a doença por hora no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde enviados à EXAME.com. Este ano, a taxa subiu para 228 casos a cada 60 minutos. Do início de 2004 até o período, foram registrados mais de 6,8 milhões de casos em todo território nacional.
Em números absolutos, São Paulo abriga o maior número de casos do Brasil. Em 87 dias, foram 257.809 diagnósticos da doença – o número já supera todos os casos contabilizados no ano passado inteiro, quando o estado registrou 226 mil diagnósticos.
Segundo análise do Ministério da Saúde, São Paulo já vive uma situação de epidemia da doença – quando a incidência ultrapassa os 300 casos para cada 100 mil habitantes.
Mas ele não está sozinho na estatística. Pelo menos os estados do Acre, Goiás e Mato Grosso do Sul já apresentam um quadro epidêmico. Veja a tabela:
Estados | Casos 2014 | Casos 2015 | Incidência 2014 | Incidência 2015 |
---|---|---|---|---|
Acre | 465 | 6973 | 58,9 | 882,5 |
Goiás | 30411 | 45819 | 466,2 | 702,4 |
São Paulo | 35141 | 257809 | 79,8 | 585,5 |
Mato Grosso do Sul | 1391 | 7965 | 53,1 | 304 |
Tocantins | 1555 | 4151 | 103,9 | 277,5 |
Rio Grande do Norte | 2196 | 7113 | 64,4 | 208,7 |
Paraná | 7779 | 22687 | 70,2 | 204,7 |
Amapá | 100 | 1179 | 13,3 | 157 |
Minas Gerais | 20951 | 30153 | 101 | 145,4 |