Sistema Cantareira em nível crítico de armazenamento de água (Fernando Carvalho/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2015 às 19h33.
Rio de Janeiro - Coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Marcos Freitas disse hoje (23) que a crise de energia e de água “chegou ao país”. Segundo ele, a consequência é a população brasileira ter de conviver com algum tipo de racionamento.
Ao contrário de 2001, quando a crise de energia marcou o início de funcionamento da Agência Nacional de Águas (ANA), hoje as empresas do setor elétrico não têm dinheiro para ações emergenciais.
Conforme Freitas, a situação é delicada, porque antigas usinas hidrelétricas estão deficitárias e precisam de modernização.
Para o técnico, de 2001 até hoje o setor elétrico se dotou de um sistema térmico que não existia.
Na época, a geração hídrica representava 85% da capacidade. O restante era geração térmica. Atualmente, 60% são de fonte hídrica e o restante térmica. “Houve investimento na geração térmica, o que é bom para aguentarmos o período seco. Naquele ano, éramos limitados em relação a geração térmica”.
Marcos Freitas afirmou que, este ano, haverá necessidade de racionamento de energia elétrica no Brasil e de água em algumas regiões, especialmente no Grande Rio e na Grande São Paulo, atingindo aproximadamente 30 milhões de pessoas.
Conforme avaliou, o racionamento deveria ter ocorrido em 2014, “seja na troca de energia entre bacias transfronteiriças, caso de trazer energia da Argentina ou do Paraguai, ou na otimização dos nossos recursos, principalmente nos sistemas urbanos de abastecimento. Isto é segurança hídrica. É mais delicado que a falta de energia", acrescentou.
Segundo Marcos Freitas, 2015 está começando com 18% de capacidade dos reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste, contra 35% a 40% no início da crise energética. “Naquele ano, não tínhamos tanta térmica como agora”. Ele acredita que isso gerará impacto em um ano difícil para a economia. “Teremos de conviver com um custo de energia mais elevado e com algum regime de racionamento, que acaba sendo impositivo”.
Explicou que a falta de planejamento gera blecautes e falta de energia, que é “muito mais perigoso que um racionamento”, porque pode atingir serviços essenciais como hospitais e transportes coletivos. Lembrou que, na crise de energia dos anos 2000, estudos indicaram retração da economia entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto, que é a soma dos bens e serviços fabricados no país.
Informou que outro agravante é o crescimento da agricultura de irrigação em várias regiões brasileiras, principalmente em São Paulo, aumentando o consumo de água dos rios. Em 2004, a área de irrigação equivalia a até 3,5 milhões de hectares no país. Hoje, supera 6 milhões de hectares.
Apesar de pequena em comparação a agricultura de sequeira (de chuva), em torno de 100 milhões de hectares, Freitas ponderou que a expansão da agricultura de irrigação tirando o consumo de água dos rios e aumenta a competição com a geração hidrelétrica e com o abastecimento de água nas cidades.
De acordo com Marcos Freitas, a cultura que usa irrigação é a da cana-de-açúcar. Nesse sentido, destacou que as hidrelétricas construídas após 2001/2002 são obrigadas a ter outorga de disponibilidade hídrica (oferta de água), além do potencial hidráulico. “Mas são poucas”.
As usinas do Sudeste já estavam construídas e não têm outorga. Segundo ele, essa variável não é avaliada, o que aumenta o consumo de água de irrigação na agricultura e acelera a seca nos reservatórios.