Veja as principais motivações dos moradores de rua (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Redação Exame
Publicado em 11 de dezembro de 2023 às 15h28.
Nos últimos 10 anos, a população de rua no Brasil chegou a 227 mil pessoas até agosto de 2023 — um salto de 935,31% em comparação à mesma pesquisa divulgada em 2013, que contabilizava quase 21 mil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em conjunto com as pessoas, também subiram os números de desempregados e de habitantes que vivem em insegurança alimentar.
Os resultados são do estudo “A população em situação de rua nos números do Cadastro Único”, de autoria de Marco Natalino, especialista em políticas públicas e gestão governamental da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea, divulgado nesta segunda-feira, 11.
O estudo aponta que das 96 milhões de pessoas presente no CadÚnico em agosto de 2023, 227 mil estavam oficialmente registradas como em situação de rua.
Entre os principais motivos para se tornarem moradores de rua, os entrevistados apontaram problemas econômicos relacionados à insegurança alimentar, desemprego e conflitos familiares. Questões de saúde também disparam entre as motivações, sobretudo relacionadas à saúde mental: metade daqueles que destacaram que a saúde é o motivo de morar na rua também apontam conflitos familiares como segunda motivação. 44% deles destacavam problemas econômicos em conjunto.
Mais de 47% dos entrevistados também priorizou conflitos familiares como principal motivação para morar nas ruas, contabilizando família e companheiros. Logo em seguida vem o desemprego, apontado por 40,5%. 30,4% mencionaram uso de drogas ou alcoolismo. Por fim, 26,1% declararam perda de moradia.
Vale destacar que a permanência nas ruas está muito relacionado à motivação da saída dessas pessoas de sua residência inicial. O Ipea destaca que conflitos familiares estão associados a um tempo de permanência a maior, seguidos por problemas de saúde e uso de drogas ou alcoolismo.
O tempo varia de acordo com a motivação de saída das ruas. Segundo a pesquisa, 33,7% da população em situação de rua está nesta condição por pelo menos 6 meses. 14,2% variam entre seis meses e um ano, 13% entre um e dois anos, 16,6% entre dois e cinco anos, 10,8% entre cinco e 10 anos e 11,7% há mais de 10 anos. 70% deles moram no mesmo estado em que nasceram, no entanto, 60% deles não se encontram na mesma cidade de nascença.
"Quanto maior o tempo de permanência na rua, maior a probabilidade de problemas com familiares e companheiros ser um dos principais motivos que levou a pessoa à situação de rua. O mesmo ocorre, e de forma ainda mais intensa, com os motivos de saúde, particularmente o uso abusivo de álcool e outras drogas. As razões econômicas, por sua vez, tais como o desemprego, estão associadas a episódios de rua de mais curta duração", diz Natalino, autor do estudo.
Apesar de ter uma população de quase 230 mil pessoas em situação de rua, mais de 10,5 são estrangeiros. A maior parte é latina, vindos de países que fazem fronteira com o Brasil. 30% deles são da Venezuela, ao passo que 32% cruzaram o mar, vindos da Angola.
Outro fato relevante mostra que 69% dessas pessoas são negras, sendo, segundo o estudo, 51% pardos e 18% pretos. Eles têm, em média, 41 anos. Os jovens entre até 30 anos somam 15% do total da população de rua, enquanto os adultos entre 50 e 64 anos correspondem a 22%. Crianças e adolescentes são 2,5%, e idosos, 3,4%.
Durante o lançamento do Plano Nacional Ruas Visíveis, realizado nesta segunda-feira, 11, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) responsabilizou o Estado pela existência de pessoas em situação de rua no Brasil. De acordo com o petista, se ainda há pessoas sem moradia no País a culpa é do Estado brasileiro.
O investimento inicial previsto pelo governo federal é de R$ 982 milhões. Dentre as autoridades presentes na cerimônia, estava o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.