O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e seu filho, Eduardo Bolsonaro, eleito para a Câmara dos Deputados (Paladinum2/Wikimedia Commons)
Gabriela Ruic
Publicado em 16 de novembro de 2018 às 20h37.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às 11h12.
Rio de Janeiro - Jair Bolsonaro na presidência, seus filhos Flávio no Senado, Eduardo na Câmara dos Deputados e Carlos na Câmara Municipal do Rio, a vida política em Brasília também será, a partir de janeiro, um caso de família.
"Esta é a primeira vez que teremos um presidente que terá um filho na Câmara e outro no Senado", diz Sylvio Costa, fundador do site especializado no Parlamento, o Congresso em Foco.
"Eles certamente terão influência no governo", mesmo sem uma posição oficial.
Na semana passada, três de seus cinco filhos participaram com Jair Bolsonaro no Congresso na solene celebração do 30º aniversário da Constituição.
Carlos não estava em Brasília, mas Flávio, Eduardo e seu irmão mais novo, Renan, ainda estudante, estavam entre os poucos convidados para o encontro de seu pai com o presidente da Suprema Corte, Dias Toffoli.
O cumprimento de Toffoli a Eduardo foi gélido, afinal o filho de Bolsonaro durante a campanha eleitoral foi visto em um vídeo dizendo que "um soldado e um cabo seriam suficientes para fechar a Suprema Corte".
Os três filhos mais velhos de Bolsonaro - Flávio, Carlos e Eduardo - fazem campanha sem reservas pelo programa de extrema-direita de seu pai e são onipresentes nesse período de transição.
Flávio, 37 anos, advogado e o filho mais velho, ficou conhecido no país ao assumir a campanha após o atentado com faca que quase custou a vida de seu pai, em setembro. Ele foi eleito facilmente senador.
Carlos, 35 anos e regularmente eleito reeleito vereador do Rio, é formado em ciências aeronáuticas, e é o estrategista 2.0 de Jair Bolsonaro. Ele desempenhou um papel fundamental nesta eleição em grande parte devido às redes sociais.
Carlos é considerado discreto e caprichoso. Se terá ou um posto em Brasília no próximo ano, não se sabe, mas ele continuará a comandar ativamente a comunicação de seu pai nas redes sociais
Eduardo, 34 anos, é advogado por formação. Graças à onda bolsonarista, acaba de ser reeleito deputado federal em São Paulo, com uma quantidade histórica de 1,84 milhão de votos. Ele está sempre com seu pai em Brasília e, em breve, visitará os Estados Unidos como emissário de Bolsonaro.
Flávio, o mais moderado, postou no Instagram uma foto dele com Eduardo e Carlos para silenciar os rumores de conflitos entre os irmãos: "Eu e meus irmãos seguimos unidos por um Brasil melhor, soldados do mesmo capitão, nosso pai Jair Bolsonaro".
E o que podem fazer os soldados de Bolsonaro?
"Flávio pode assumir a liderança de um dos comitês do Senado, de educação ou de relações exteriores, pode fazer avançar o programa de seu pai", afirma Márcio Coimbra, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Quanto a Eduardo, "ele terá um mandato forte e provavelmente assumirá a liderança de um dos comitês importantes da Câmara, como o das relações exteriores ou da Constituição e da Justiça", prevê.
"Eles são inteligentes, serão essenciais para implementar o Bolsonarismo e poderão trabalhar com o Congresso", garante.
Esta não é a opinião de todos.
"Esses irmãos podem se tornar um grande problema", diz Sylvio Costa, "eles falam demais, não conhecem as regras da política, têm um estilo muito agressivo".
A partir de janeiro, "eles terão que conversar com aqueles que não pensam como eles", adverte Costa. "Será crucial que eles tenham um bom relacionamento com outros partidos políticos".
A onipresença dos filhos de Bolsonaro desde a eleição faz estremecer algumas pessoas.
Míriam Leitão, jornalista de O Globo, lamenta que Flávio e Carlos Bolsonaro tenham participado da escolha do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
"O presidente Bolsonaro sempre ouvirá seus filhos, mas quando isso ganha status de equipe de triagem para o Ministério é uma confusão entre família e governo que não deveria existir", lamentou. "Isso não é normal do ponto de vista institucional".
A vida política no Brasil sempre foi dominada pelas grandes famílias em redutos estaduais como Bahia, Maranhão ou Ceará.
"Mas esta dinastia política é totalmente diferente", explica Márcio Coimbra. "Os Bolsonaro têm poder em diferentes estados, no Rio e em São Paulo".
Além disso, trata-se do primeiro clã familiar de extrema direita.