Beltrame: "A legislação brasileira está na hora de ficar muito mais próxima dos anseios da sociedade" (Shana Reis/GERJ/Divulgação via Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2015 às 16h07.
Rio de Janeiro - Em solenidade de inauguração da primeira Companhia Integrada de Polícia de Proximidade (CIPP) da Polícia Militar, projeto-piloto para levar policiamento comunitário ao bairro do Grajaú (zona norte do Rio), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, criticaram a violência contra policiais no estado.
Durante a cerimônia, Beltrame disse que os policiais sofrem a mesma "barbárie e selvageria" que toda a sociedade.
No fim de semana, dois policiais civis e dois PMs foram mortos por criminosos no Rio.
Outros cinco foram feridos.
"Os policiais sofrem hoje a barbárie, sofrem a selvageria. Porque as pessoas matam por R$ 30, por um celular", disse Beltrame, que voltou a defender "penas mais duras" para criminosos.
"A legislação brasileira está na hora de ficar muito mais próxima dos anseios da sociedade."
Já Pezão afirmou que vai para Brasília com Beltrame pedir "penas mais duras no Congresso".
"Não podemos colocar toda a carga de violência que a gente tem hoje só em cima da Polícia Militar."
O governador disse que o que se quer no asfalto, com a polícia de proximidade, se quer no morro, com as Unidades de Polícia Pacificadora.
O governador admitiu que "tem policial ruim" como "tem político ruim e médico ruim".
"Se tem policial ruim, tem uma porção de coisa ruim no país. Não podemos achar que todo policial é um ser ruim."
O coronel Alberto Pinheiro Neto, comandante da PM, falou em "reestruturação" da corporação e disse que a estratégia de policiamento de proximidade busca facilitar a comunicação entre moradores do bairro e policiais.
"Desejamos que nossos policiais desenvolvam maior comunicação com as pessoas. O policial de proximidade, por se encontrar mais próximo à comunidade, detém o acesso privilegiado a informações".
Durante a inauguração, moradores do Grajaú conversaram com autoridades e protestaram contra a violência no bairro.
A jornalista Ana Cristina Braga, de 47 anos, exibia um cartaz com as inscrições: "Sou refém dos bandidos em minha própria casa".
Ela tentou falar com Beltrame, mas foi ignorada pelo secretário. "Tenho medo de sair à rua para trabalhar, tenho medo de ir à feira e ao mercado", conta ela, que sofreu o primeiro assalto há nove meses, três depois de começar a morar no bairro.
Seis meses depois, o marido dela também foi roubado.
"Eles são covardes, eles batem, eles levam tudo. As pessoas são assaltadas aqui diariamente. Nós temos ruas escuras, desertas e mal policiadas", queixou-se.
Já o radialista Uedson Júnior, de 33 anos, mora há 8 anos no bairro. Ele exibia um cartaz dizendo que seu apartamento havia sido invadido por criminosos.
"Eu vim protestar contra o atual serviço insatisfatório. Vamos ver se agora dá certo. O histórico não é bom, nada nunca dá certo. A gente vê projetos acontecendo e meses ou anos depois eles morrem."
No primeiro dia da CIPP, os policiais já vestiam coletes diferentes dos demais PMs, com faixas em laranja, e armas de choque, além das pistolas.
No evento de inauguração, alguns PMs do 6º Batalhão, onde a unidade está lotada, distribuíram folhetos sobre a nova companhia integrada.
Os cartões de visita que distribuíram aos moradores, porém, ainda não estão nas mãos dos soldados, 104 recém-formados na PM que serão divididos por ruas da região para o patrulhamento.
"O cartão deve chegar até o fim da semana", disse um deles. Já os carros usados nas patrulhas da CIPP têm identificação especial, com as inscrições "Polícia de Proximidade".