Carrefour: Para a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, ficou claro e comprovado o excesso dos seguranças no crime (Diego Vara/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 12h51.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul indiciou seis pessoas pelo espancamento e a morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, em uma loja do Carrefour de Porto Alegre. O caso ocorreu na noite da véspera do último Dia da Consciência Negra, gerando uma série de protestos contra o racismo por cidades brasileiras.
De acordo com a Polícia Civil, o espancamento ocorreu por motivo torpe, motivado pelo racismo estrutural, embora o agravante de injúria racial não tenha sido incluído no inquérito. Os indiciados responderão por homicídio triplamente qualificado. Entre eles, estão o ex-policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva e o vigilante Magno Braz Borges, que trabalhavam no supermercado e agrediram a vítima, e a agente de fiscalização Adriana Alves Dutra, que aparece nos vídeos do espancamento tentando impedir que o ato fosse gravado.
Os demais são o também vigilante Paulo Francisco da Silva, do Grupo Vector, e os funcionários do local Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende, em grau menor de participação no crime. Para a polícia, Adriana e o outro vigilante poderiam ter impedido as agressões.
A partir de necropsia feita por legistas do Departamento Médico Legal, o inquérito também concluiu que João Alberto morreu por asfixia. Segundo testemunhas, um dos agressores colocou o joelho sobre o corpo da vítima, imobilizando-a e dificultando que respirasse.
Segundo informações divulgadas em coletiva de imprensa, mais de 40 pessoas foram ouvidas durante a investigação. Dos seis incriminados, estão presos Gaspar da Silva, Borges e Adriana. Nesta semana, a Justiça negou pedido de liberdade provisória de Silva.
Responsável pela investigação, a delegada Roberta Bertoldo disse que não houve crime de injúria racial, porém a atitude dos agressores ocorreu em decorrência do racismo estrutural vivido no País, somado ao fato da vítima ter uma condição socioeconômica inferior, uma vez que "nenhuma testemunha foi capaz de detalhar o que motivou aquela reação violenta".
Para a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, ficou claro e comprovado o excesso dos seguranças no crime. "A conclusão do inquérito trouxe uma resposta rápida dentro da lei e uma sensação de Justiça. A polícia embasou em 60 páginas este relatório, com detalhes importantes sobre o caso. Foi público e notório que ocorreu uma atitude desumana e degradante, que feriu os direitos humanos", disse Nadine ao Estadão.
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram parte das agressões e o momento em que João Alberto foi atendido por socorristas, quando já estava desacordado. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por ao menos 12 socos. Ao fundo, uma pessoa grita "vamos chamar a Brigada (Militar)".
A reportagem aguarda posicionamento de representantes dos acusados. O espaço está aberto para manifestações.