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Polarização no Brasil supera diferenças entre classes sociais e religiões

Estuda aponta que tensão política no país supera a média mundial

Manifestantes protestam contra o governo Bolsonaro na Avenida Paulista: nem quando a reinvindicação é a mesma grupos políticos andam juntos (Bruno Rocha/Estadão Conteúdo)

Manifestantes protestam contra o governo Bolsonaro na Avenida Paulista: nem quando a reinvindicação é a mesma grupos políticos andam juntos (Bruno Rocha/Estadão Conteúdo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de agosto de 2021 às 10h49.

Última atualização em 1 de agosto de 2021 às 10h50.

No Brasil, nem quando a reivindicação é a mesma, alguns grupos políticos conseguem andar juntos. Uma bandeira do PSDB foi incendiada por militantes do PCO na Avenida Paulista num protesto contra Jair Bolsonaro no início julho, num sinal claro de que, para alguns, os tucanos não eram bem-vindos ali, mesmo se fosse para lutar pela mesma coisa. A confusão foi um dos motivos que fizeram grupos não alinhados à esquerda marcarem um ato próprio contra o presidente em setembro. Cada um no seu canto - e os dois lados parecem aprovar a ideia.

A polarização política no Brasil supera até as diferenças entre classes sociais e religiões quando o assunto é “tensão social”, de acordo com o levantamento “Guerras Culturais”, da Ipsos. A cada dez brasileiros, oito dizem acreditar que há uma tensão elevada no País entre pessoas que defendem bandeiras partidárias diferentes.

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O porcentual supera a média global de 28 países e coloca a polarização política como o principal catalisador de tensão por aqui, na percepção dos próprios brasileiros. Ou seja, briga-se mais por política partidária do que por qualquer outro assunto. Exemplos dessa tensão e da violência política não faltam, e vão de bate-boca em grupos de família até casos extremos, como as ameaças de morte recebidas por lideranças de esquerda eleitas em 2020.

Conversar com quem pensa diferente é apontado como um dos maiores desafios no Brasil de 2021 de acordo com quem tenta fazer política mesmo sem estar num cargo eleito. “O diálogo é obviamente necessário, mas está cada vez mais difícil promover o debate público em meio a tantas narrativas e fanatismo”, disse a empresária Amanda Vettorazzo, de 32 anos, filiada ao Patriota. “Chegamos ao ponto em que a verdade e a lógica não importam mais para boa parte das vozes ativas na política brasileira, o que deixa nossa democracia fragilizada.”

Para o professor Rafael Parente, 44 anos, ligado ao PSB, o ódio e as mentiras são as principais razões do problema. “Ficou mais difícil conversar. Muito da polarização é baseado em mentira e ódio, mas, ao mesmo tempo, o acirramento criou uma força contrária ao radicalismo, de relembrar que a diversidade brasileira é uma das nossas forças e que crescemos na diversidade e com a verdade.”

Diretor de Public Affairs da Ipsos no Brasil, Helio Gastaldi acredita que se trata de uma guerra de narrativas. “Na medida em que os polos políticos opostos apropriam-se de temas que supostamente agregam simpatizantes para suas fileiras, as opiniões sobre estes temas tornam-se também mais radicais e até sectárias, uma vez que teríamos cada grupo defendendo incondicionalmente determinadas posições e condenando enfaticamente outras, sem possibilidades para um olhar mais contemporizador.”

Falas de Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que por enquanto protagonizam o debate antecipado pela disputa presidencial de 2022, têm ajudado a aumentar o clima de “Fla-Flu” político. O presidente já afirmou que o adversário, que lidera as pesquisas de intenção de voto, só ganhará a eleição se for na “fraude”. Já o petista disse que sempre “polarizou” contra candidatos do PSDB, mas nunca em “baixo nível”, justificando que vê a disputa com Bolsonaro como a “democracia” contra o “fascismo”.

“Um elemento fundamental para a diminuição da polarização e dos ânimos dos eleitores seria uma pactuação política, em que os próprios candidatos assumam uma posição de diálogo e não de confronto”, disse o cientista político Creomar de Souza, da consultoria Dharma. “(Mas) Acredito que isso não será feito. Os candidatos estão alimentando a lógica do confronto porque diminui a racionalidade do processo. O prognóstico é uma eleição tumultuada e com violência em 2022.”

Terceira via. A tentativa de consolidação de uma “terceira via” para 2022 acumula nomes: de governadores, como os tucanos João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), além do senador Tasso Jereissati (CE); os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM); parlamentares como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e sua colega de Casa Simone Tebet (MDB-MS); a “outsiders”, como o apresentador José Luiz Datena (PSL).

Na pesquisa Ipec divulgada pelo Estadão em junho, Lula tinha 49%; Bolsonaro, 23%; e Ciro abria o bloco da terceira via com 7% das intenções de voto. “O principal dilema da terceira via passa por escolher um nome e buscar voto”, disse Souza.

A tendência, na avaliação da Ipsos, é de que o clima “bélico” da disputa eleitoral seja transmitido para o eleitor. “A estratégia adotada pelos grupos políticos que se antagonizam neste momento é justamente tratar os adversários políticos como inimigos mortais e buscar a aniquilação destes inimigos, justamente como ocorre em uma guerra”, afirmou Gastaldi. “A proximidade com a eleição deverá fazer a temperatura subir ainda mais, acentuando a polarização e a belicosidade dos participantes. Espero que haja uma saída, mas, qualquer que seja, ela está ainda muito distante.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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