Enchente em Franco da Rocha, em São Paulo, deixou os moradores ilhados (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2011 às 21h25.
A água que tomou conta do centro de Franco da Rocha, cidade da Grande São Paulo em que vivem 130.000 pessoas, não era só a que caiu do céu. Com o temporal, as comportas da represa Paiva Castro, que fica a seis quilômetros, foram abertas. O município ficou ilhado.
Nesta quinta-feira, a água ainda não baixou completamente e muitos moradores, sem ter como sair de casa, não conseguem ir para o trabalho – os trens, muito usados para chegar a São Paulo, voltaram a circular somente no início da noite desta quinta-feira. A Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) afirma que poderia ter sido pior.
Segundo a empresa, a medida foi tomada para evitar uma catástrofe: a represa teve que abrir suas comportas ou estouraria. “Poderia ter sido um tsunami”, disse ao site de VEJA o superintendente de produção de água da região metropolitana da Sabesp, Helio Castro. “A água viria carregando árvores, casas, pessoas, tudo. Seria uma desgraça”.
Nesta quinta-feira, diminuiu a quantidade de água que sai da represa e chega ao rio Juquery, que corta a cidade. Com isso, a área alagada também diminuiu. Não completamente, mas o suficiente para começar a limpeza do estrago. Solidários, muitos moradores abrigaram vizinhos e animais de estimação.
A oficina de Paulo Roberto Nunes era uma das casas quase submersas na tarde de quarta-feira. Ela fica ao lado do viaduto, de onde os moradores podiam ver a cidade partida – de um lado, tudo alagado; de outro, as pessoas que não conseguiam sair. Nesta quinta-feira, Nunes chegou às 5h para tentar entrar na loja. A água, que batia no joelho, começou a baixar às 10h. Desde então, com o rodo na mão, ele tenta retirar a lama que tomou conta de tudo. Renan Radamis faz o mesmo na loja ao lado. “Não sei que horas isso vai acabar”, diz.
A sujeira que Radamis tenta limpar começou a se formar na noite de segunda-feira. A forte chuva caiu sem piedade. Segundo a Sabesp, a vazão da represa era de 10.000 litros por segundo, o que é considerado normal. Ela trabalhava com uma capacidade de 45%, “com uma boa margem de segurança”, diz Castro. Em 14 horas, passou dos 45% para 96%, quando as comportas tiveram que ser abertas para evitar a catástrofe. Primeiro, saíam 15.000 litros de água por segundo. Não foi suficiente. A quantidade de água jogada para o rio Juquery atingiu 80.000 litros por segundo às nove da noite de terça-feira. A cidade alagou. “Se não fizéssemos isso, começaria a erosão e a represa estouraria. Foi feito o que deveria ser feito”, afirmou Castro.
Aviso
O prefeito, Marcio Cechettini, reclamou que o aviso dado pela Sabesp foi dado com pouca antecedência. Segundo Castro, o aviso foi dado como são todos os outros que monitoram a represa: diariamente, pela manhã, em forma de comunicado à prefeitura e à defesa civil. A Sabesp rebate. Diz que, em novembro, houve uma reunião para falar especificamente sobre o que seria feito no período das chuvas.
“Todo mundo sabe que essa época é mais difícil. E o representante do prefeito estava nesse encontro, quando avisamos que poderia haver a necessidade de abertura das comportas em caso de cheia. Eles sabiam de tudo.”
As comportas continuam abertas, despejando 10.000 litros por segundo. A represa está operando com 76% do reservatório cheio. “Temos algum fôlego se chover”, informou Castro. No entanto, depende da quantidade de chuva que cair sobre a cidade. Em caso de mais um temporal, as comportas serão abertas ainda mais, e mais água entrará em Franco da Rocha. E a cidade voltará a receber a inundação de seu rio, as casas voltarão a encher, a lama aumentará e tudo acontecerá como tem acontecido, repetidamente.