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Pode cravar: Lula ganha no 1º ou no 2º turno, diz Flávio Dino

Em entrevista à EXAME em São Luís, no Maranhão, governador aposta na vitória do PT e diz que terceira via não tem identidade, programa nem líderes

Flávio Dino (PSB), governador do Maranhão: Lula ganha no 1º ou no 2º turno (Leandro Fonseca/Exame)

Flávio Dino (PSB), governador do Maranhão: Lula ganha no 1º ou no 2º turno (Leandro Fonseca/Exame)

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Carla Aranha

Publicado em 3 de outubro de 2021 às 08h00.

Última atualização em 4 de outubro de 2021 às 09h26.

Único governador comunista do país, Flávio Dino representa hoje uma das figuras mais proeminentes da política nacional. Cotado a ocupar o lugar de vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é próximo, Dino decidiu recentemente disputar uma vaga no Senado. Mas não será pelo PCdoB, partido do qual fez parte nos últimos 13 anos. O governador migrou em junho para o PSB, em uma movimentação vista como parte dos esforços da campanha de Lula às eleições de 2022, que pressupõe a formação de uma ampla rede de esquerda e centro.

No nordeste, as articulações políticas para a disputa presidencial seguem mais firmes que nunca, com Dino à frente dos principais pelotões. “Pode cravar sem medo de errar que Lula ganha as eleições ou no primeiro turno ou no segundo”, diz.

Dino recebeu a reportagem de EXAME no Palácio dos Leões, sede do governo, onde convive com móveis de jacarandá e tapeçarias francesas do século 19 que guardam a herança de uma das fases mais prósperas do Brasil imperial. O governador ocupa uma sala em uma ala reformada, distante da pompa monárquica do restante do prédio construído de frente para o mar no século 17.

Após dois mandatos no governo do estado, Dino colhe frutos da melhoria de indicadores em áreas como segurança pública e educação. O Maranhão passou da 17ª posição no ranking estadual do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2013 para a 13ª em 2017. Nos últimos cincos a taxa de crimes letais caiu 41%, segundo a secretaria de segurança do estado.

Mas falta ainda reduzir os índices de extrema pobreza, que cresceu quase 18% entre 2016 e 2018, segundo dados do IBGE, bem acima dos 13% da média nacional. “O Maranhão tem tudo para avançar com o aprimoramento do ambiente econômico do país”, diz. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Estamos nos aproximando de 2022, quando seu mandato se encerra. Que balanço o senhor faz de seu governo?

O principal ponto desafiador é a questão econômica. Desde 2015, quando tomei posse, tem sido um período complicado no país, com o início da recessão e uma queda muito forte no PIB. É inegável que houve um impacto na extrema pobreza. Isso desafia o Brasil e, claro, o Maranhão. Mas faço questão de frisar que o conjunto de ação que tomamos para minimizar esses dados produziram indicadores bem interessantes. O principal deles é que em 2021 teremos o quinto ano consecutivo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados positivo, o que é uma exceção em termos nacionais.

Outro êxito indiscutível é a ampliação de políticas sociais. O Maranhão tem, por exemplo, a menor taxa por covid-19 do país, o que é fruto dos investimentos que fizemos nos últimos anos. Foram abertos 30 hospitais que garantiram uma rede grande que foi muito eficiente no combate à covid. Foram 2 bilhões de reais por ano que garantiram esse indicador. Na educação, implementados escola em tempo integral, o que não existia no Maranhão.

O que falta então para o Maranhão conseguir dar um salto de crescimento e sair das últimas posições do ranking nacional da extrema pobreza?

A melhoria do ambiente nacional vai levar a isso. Se pegar o crescimento do PIB entre 2010 e 2020, mostra uma tendência de crescimento forte da economia no Maranhão. Então creio que ultrapassada essa quadra de dificuldades do Brasil, o Maranhão tem tudo para avançar ainda mais. Nos últimos anos, a extrema pobreza cresceu no país inteiro, não só no Maranhão.

É que nos últimos anos, principalmente entre 2016 e 2018, a extrema pobreza cresceu quase 18% no Maranhão, acima do restante do país, e continua nesse patamar, não?

Mas é fruto dos problemas da economia do país.

Mas não existem ações que pudessem ser tomadas a nível estadual para que esse nível de extrema pobreza começasse a cair?

O que temos feito é investimento público para gerar trabalho, por isso temos um Caged positivo, e muita política social. Não é uma solução sistêmica porque não se faz política econômica a nível estadual. É muito difícil para um estado sozinho reverter uma tendência nacional.

O crescimento previsto para o país para os próximos anos, de 2,5% ao ano, é suficiente para que haja um crescimento tal capaz de reduzir a extrema pobreza no estado?

Eu acho que a gente cresce mais do que isso no Maranhão.

Por quê?

Existem investimentos contratados que vão levar a isso. Estão previstos grandes investimentos na retomada da produção de alumínio da Alcoa. Isso gera crescimento do PIB. Vai ter o porto da Cosan em São Luís e o porto de Itaqui deve continuar crescendo, assim como tudo que se refere a grãos.

Falando agora sobre as eleições presidenciais de 2022, como o senhor vê o cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro? Em sua visão, quais são as chances de chegarmos ao segundo turno com os dois candidatos?

Lula estará no segundo turno, se houver segundo turno. A minha dúvida é se o Bolsonaro estará porque há espaço para a chamada terceira via desde que ela se apresente como algo afirmativo. Não basta uma suposta terceira via dizer que não é Lula nem Bolsonaro, isso é muito pouco para motivar os eleitores. Não tem identidade, não tem programa e não tem líderes claros. Caso a terceira via permaneça assim, o segundo turno vai ser entre Lula e Bolsonaro. Se houver programa e ideário, aí pode ser que a terceira via desloque o Bolsonaro. Eu torço por isso.

Mas não pode tirar o Lula também?

Não tira.

E por quê o senhor acha isso?

Porque na história das eleições, desde 1989, sempre teve o PT protagonizando. De Lula em 89 até Fernando Haddad em 2018, o PT sempre esteve em um dos polos. Então, é uma tendência muito forte da política brasileira. O “lulismo” tem muita força.

Mas mesmo o PT não tendo conquistado tantos votos nas últimas eleições estaduais, o senhor acredita que Lula vai de qualquer jeito para o segundo turno até com uma eventual terceira via forte?

A figura de Lula tem muita força. O “lulismo” no século 21 está como o varguismo, do ex-presidente Getúlio Vargas, esteve para o país no século 20. Desde 1930 até 1964 o varguismo esteve presente. Juscelino e João Goulart chamavam essa herança para eles. O varguismo sempre esteve posicionado em um dos polos. E só não continuou assim porque teve o golpe militar em 1964. Você pode cravar sem medo de errar que Lula ganha no primeiro turno ou no segundo.

O senhor deixou o PCdoB e foi para o PSB, partido que atraiu recentemente políticos de renome na esquerda como o deputado Marcelo Freixo. Qual é a posição do PSB hoje em relação à disputa presencial?

O PSB está mais no campo do “lulismo”, embora não seja automaticamente um partido do “lulismo”. É mais provável que o PSB esteja com Lula. Ainda há algumas figuras que vão se posicionar, como Gilberto Kassab (presidente nacional do PSD), e tem que ver como o Centrão vai se posicionar. Já comecei a ver gente do Centrão que defendia o Bolsonaro fazer agora cara de paisagem. Acho que uma pequena parte do Centrão fica com Bolsonaro, uma parte vai para terceira via e uma parte vai com Lula.

Hoje há algum candidato da terceira via com projeção nacional e chances de angariar um bom volume de votos?

Esse é um dos problemas. Além de não ter programa, hoje a terceira via não tem um rosto. No mundo todo, embora os partidos possam ter maior ou menor importância, o indivíduo tem um papel muito alto. Isso pesa em qualquer eleição. Uma das dificuldades da terceira via é que hoje não existe essa figura. E muitos da chamada terceira via apostaram no bolsonarismo, que deu errado em tudo. Hoje, a rejeição ao Bolsonaro é muito forte e não acredito que ele reverta isso. Mas tem tempo para as eleições. O povo só sintoniza eleição no meio do ano eleitoral. Os políticos é que têm um ritmo mais acelerado. A eleição está sendo muito antecipada e isso é muito ruim.

Nas eleições para presidente, deverão ser discutidas questões ideológicas, inclusive no que se refere a aspectos da economia como o gasto público, o risco fiscal e as privatizações? O que se espera dessas questões em um eventual governo do PT?

São questões que não estiveram sobre a mesa nas eleições de 2018 e por isso houve esse desastre bolsonarista. Em 2018, não houve debate, só fake news e o episódio da facada. Não houve debate. Em 2022, terá.

Mas deve haver esse tipo de debate?

Eu espero que sim. Não me parece ser o desejo do Bolsonaro, mas espero que a sociedade cobre isso. Lembro bem de uma entrevista com Bolsonaro em que ele não sabia responder perguntas básicas, sobre reforma tributária e outros temas. Como alguém elege um presidente da República que não tem noção básica de um tema tão fundamental? Ele dizia que então entendia nada de economia e ainda sim se elegeu. Isso é um absurdo.

Como os partidos de esquerda estão se posicionando hoje sobre uma série de questões econômicas, como gasto fiscal, visando as eleições de 2022?

As privatizações, por exemplo, não são prioridade na nossa agenda. Uma coisa é concessão, que a Dilma fez, outra é dizer que vai vender a Petrobras e o Banco do Brasil. Isso não cabe numa agenda de desenvolvimento como nós acreditamos. Eu defendo que a Petrobras já está muito privatizada, por isso essa política de preço tresloucada que está aí massacrando o povo brasileiro.

Por falar nisso, como o senhor vê a discussão em torno da política de preço da Petrobras?

É pressão dos acionistas. A paridade de preços com o mercado internacional atende exclusivamente o interesse dos acionistas.

A política de preços da Petrobras vem impactando diretamente a inflação?

Ela vem condenado as pessoas à fome. Não é privatização que vai resolver isso. Em relação a outros temas, como responsabilidade fiscal, as nossas experiências de governo, nos estados, todos têm uma situação fiscal melhor do que estados governados pela direita. Então não é verdade a ideia que ser de esquerda é ser contra a responsabilidade fiscal. O único estado hoje com rating C ou D do Tesouro é o Rio Grande do Norte porque pegou terra arrasada, aí é impossível conseguir reverter em tão pouco tempo. Mas os demais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Ceará, que são estados de referência no nosso campo, estão bem.

Em sua visão, quais seriam os principais erros da equipe econômica?

Em um cenário de desemprego alto e inflação, o governo teria que agir, mas não age. O governo é um cercadinho com uma live e um aglomerado de molecagem. Aos olhos do mundo, o Brasil saiu do conjunto de países a ser levado a sério. Agora, é visto como uma coisa caricata. O Brasil é uma coisa insana agora. Enquanto não se trocar esse comando desvairado, não vamos sair dessas armadilhas. Agora, é óbvio que tem saída. Estamos falando de um país que tem 360 bilhões de dólares de reserva internacional e tem petróleo.

Por fim, o senhor está sendo cotado para ser vice do Lula ou senador. Como o senhor, que é próximo a Lula, está refletindo sobre essa questão?

O mais provável é que eu saia do governo em abril e seja candidato ao Senado. Em relação a outros cenários, não depende de mim. Quem conduz a formação deu uma chapa é quem a lidera. Eu sempre brinco que não existe candidato a vice.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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