(Eduardo Frazão/Exame)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 25 de agosto de 2023 às 13h33.
Os níveis de pobreza e vulnerabilidade social caíram entre 2008 e 2018 em todos os estados brasileiros, além das diferentes faixas de renda e composição familiar. É o que revela a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017/2018 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 25. A pesquisa não contempla os efeitos da pandemia sobre acesso a bens básicos, como moradia e educação, usados na definição de pobreza e vulnerabilidade.
O levantamento acompanha a evolução da pobreza e da vulnerabilidade no país, a partir de uma abordagem multidimensional e não monetária. Três índices são considerados: Índice de Pobreza Multidimensional não Monetário (IPM-NM), Índice de Vulnerabilidade Multidimensional não Monetário (IVM-NM) e Índice de Pobreza Multidimensional não Monetário com Componente Relativo (IPM-CR).
Para identificar pessoas com algum grau de pobreza ou de vulnerabilidade, sob a ótica multidimensional, a pesquisa avalia 50 indicadores não monetários, divididos em seis dimensões:
“A disponibilidade de dados da POF possibilita um olhar complementar aos indicadores tradicionais de pobreza baseados apenas na renda e no consumo", explica Leonardo Oliveira, gerente da pesquisa.
A pesquisa considera que uma pessoa está em situação de pobreza quando detecta perdas e privações de qualidade de vida equivalentes a pelo menos duas dimensões do levantamento. Os índices variam de 0 a 100, e quanto menor o indicador menor a pobreza e a vulnerabilidade.
Os dados mostram que 22,3% da população brasileira tinha algum grau de pobreza multidimensional em 2017-2018, queda de 21,9% em relação aos 44,2% encontrado pela POF 2008-2009.
Já para ser enquadrada em uma situação de vulnerabilidade, a pessoa precisa ter perdas equivalentes a, pelo menos, o tamanho de uma dimensão inteira, ou seja, metade da exigência para a classificação na situação de pobreza multidimensional. Em 2017-2018, 63,8% dos brasileiros viviam com algum grau de vulnerabilidade multidimensional, uma proporção menor que os 81,7% encontrados em 2008-2009.
Um terceiro índice também é considerado pelo IBGE. O Índice de Pobreza Multidimensional com Componente Relativo (IPM-CR) , justamente pela sua relatividade, caiu apenas 20%. Diferente dos demais, este não adota pontos de corte e não classifica as pessoas estritamente como pobres.
Em números absolutos, o contingente de pessoas com algum grau de pobreza não monetária multidimensional recuou de 84,1 milhões para 46,2 milhões, no período analisado.
Apesar do resultado positivo, a pesquisa aponta que a desigualdade aumentou no período. Para Oliveira, a queda não foi suficiente para eliminar as diferenças que existem entre a pobreza de diferentes raças.
"Os maiores valores dos três índices continuam concentrados nos seguimentos menos favorecidos, indicando um componente estrutural da desigualdade de qualidade de vida que já estava presente em 2008-2009 e permaneceu em 2017-2018", mostra o estudo.
O índice de pobreza em que a pessoa de referência é branca era de 3,3 em 2008-2009 e passou para 1,1 em 2017-2018. Entre pretos e pardos, o indicador passou de 9,6 para 3,2. Níveis superiores, de pobreza ou vulnerabilidade, também foram verificadas quando a pessoa responsável pelo lar tinha menor nível de escolaridade, menor renda, e a família tinha mais de um adulto com ao menos uma criança. "A concentração da pobreza ainda permanece elevada nesses dois níveis de instrução que respondem por mais de 75% do índice”, verifica Leonardo.