Sobrevivente do incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, é transferido para tratamento em hospital de Porto Alegre (REUTERS / Camila Domingues)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo - A tragédia em Santa Maria ainda pode levar a novas internações médicas. São pessoas que tragaram a fumaça do incêndio na boate e não desenvolveram imediatamente sintomas de intoxicação respiratória.
Especialistas explicam que a chamada pneumonia química pode se manifestar até três dias depois da inalação. No domingo (27), 24 pessoas suspeitas de estarem com o problema foram atendidas no pronto-socorro do município. Na segunda-feira (28), houve mais dois casos.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já havia alertado para o risco de casos assim no domingo (27) à tarde. Tosse, falta de ar e até mesmo catarro frequente, que pode, ou não, estar acompanhado de restos de fuligem, caracterizam as reações do corpo ao desenvolvimento da moléstia, que, se não for tratada, pode levar à morte.
O cirurgião Luiz Philipe Molina, do Centro de Referência em Trauma do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, compara a pneumonia química à formação de bolhas nas mãos após queimaduras em panelas ao fogo. "Nesses casos, a pele fica vermelha na hora. Um tempo depois, começam a surgir bolhas que, após uns dias, estouram. Nas mucosas respiratórias, o processo é parecido."
Segundo ele, os tecidos internos lesionados pelo contato com o ar quente do incêndio podem descamar. "As células que foram atingidas acabam sendo eliminadas, impedindo o bom funcionamento dos pulmões."
Isso dificulta a transmissão de oxigênio dos alvéolos pulmonares para a corrente sanguínea. A descamação favorece infecções secundárias. Outros sintomas decorrentes desse problema são dor de cabeça e tonturas.
A desidratação dos tecidos também pode ocorrer, segundo Ubiratan de Paula Santos, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia e pneumologista do Instituto do Coração. "Deve-se notar que, nessas circunstâncias, a pessoa respira gases e material particulado em alta temperatura, o que provoca uma agressão térmica ao revestimento de traqueia, laringe e brônquios."
A estudante Ingrid Goldani, que estava na boate Kiss, começou a se sentir mal na tarde de domingo (27). Ela havia escapado do incêndio aparentemente ilesa, mas manifestou os sintomas horas depois. Acabou sendo transferida na segunda-feira (28) de madrugada para um hospital de Porto Alegre.
Gravíssimos
A maioria dos internados por causa da tragédia tem intoxicação respiratória. E a perspectiva não é tranquilizadora. Há ainda 75 pacientes internados em estado grave, a maioria respirando por ventiladores mecânicos, em Unidades de Terapia Intensiva de hospitais de Santa Maria e Porto Alegre, segundo balanço divulgado no final da tarde pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha. "São pacientes em estado crítico, que correm risco de vida", admitiu.
Sobre o risco de pneumonia química, as autoridades recomendam que, diante de qualquer sintoma - como tosse ou falta de ar, por exemplo -, as pessoas que estavam na boate e inalaram fumaça tóxica procurem atendimento médico imediatamente.