Dilma Rousseff e Michel Temer, do PMDB: movimentos de Dilma durante a reforma ministeriam criaram mais insatisfação do que agradecimentos no partido (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2015 às 16h18.
Brasília - O Congresso Nacional da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, na próxima terça-feira não terá força para decidir sobre a saída do partido do governo de Dilma Rousseff, mas será o primeiro momento de um movimento de afastamento gradual que deverá terminar no rompimento definitivo em março de 2016, durante a convenção partidária, disseram à Reuters fontes peemedebistas.
Apesar de ter saído da reforma ministerial ainda mais forte no governo do que antes, com sete ministérios, entre eles a importante pasta da Saúde, os movimentos de Dilma durante todo o processo criaram mais insatisfação do que agradecimentos.
Nos últimos meses, a ala dos peemedebistas que defendem a saída do governo cresceu, ainda que sem o mesmo barulho do grupo que grita por um rompimento já.
“O grupo que defende a saída já ainda é minoria, esse é o pessoal que vai bater bumbo no congresso", disse à Reuters um peemedebista de alto escalão.
"Quem não quer bater bumbo nem vai", acrescentou.
"Mas isso não significa que o partido vai ficar no governo. O caminho da convenção de março deve ser o rompimento”, acrescentou essa fonte, que pediu para não ser identificada.
A avaliação é que dificilmente o partido conseguirá segurar os delegados em um momento em que o apelo para que o PMDB fique no governo, com baixa avaliação e enfrentando uma crise econômica e política, é muito baixo.
Isso iria requerer um esforço dos caciques do partido, o que não deve acontecer. Um parlamentar do partido afirmou à Reuters que essa discussão ainda não está madura, mas que nos próximos meses até a convenção sem dúvida ganhará força.
“O PMDB decidiu que o projeto em parceria com o PT se esgotou. Se o governo não mudar o rumo, a situação só vai se agravar”, disse o parlamentar, que também pediu anonimato, lembrando que, a menos que a situação mude radicalmente, será difícil segurar o partido.
O PMDB flerta com a oposição já há alguns meses. Parte da bancada, especialmente na Câmara, não esconde que a hipótese de impeachment de Dilma agrada, especialmente se Temer ficar e assumir a Presidência.
Com a ação que questiona as contas de campanha de Dilma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PMDB traçou uma estratégia para convencer o tribunal de que as contas de Temer foram separadas, de modo que o vice-presidente não seja prejudicado dependendo da decisão.
O PMDB já decidiu, ainda que informalmente, que terá candidato próprio à Presidência da República em 2018.
Duas fontes do partido admitiram à Reuters que entre essa decisão e construir uma candidatura forte há uma distância, mas que o partido precisa ter um programa de governo --para 2018 ou até eventualmente para 2016, no caso de terem que assumir a Presidência.
Mas o caminho passa por um afastamento gradual do governo.
E se antes o grupo ligado a Michel Temer ainda defendia se manter no governo, nos últimos meses, com a relação difícil entre o vice-presidente e Dilma, a onda pelo rompimento cresceu.
A crise entre Temer e a presidente começou quando, ao tentar fazer a articulação política, como Dilma havia pedido, Temer viu seus acordos serem empurrados com a barriga ou negados pelo então ministro da Casa Civil, o petista Aloizio Mercadante.
Mas no meio do caminho, Temer irritou Dilma e a cúpula petista quando afirmou que alguém tinha que unir o país, num cenário de baixíssima popularidade da presidente, uma declaração que foi vista como uma insinuação de que ele seria essa pessoa.
A insatisfação cresceu quando Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiram abrir um canal de negociação direto com Jorge Picciani, presidente do PMDB do Rio de Janeiro e pai do líder do partido na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani, como uma forma de tentar enfraquecer o poder do presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ), sobre a bancada.
“Havia uma relação delicada com o partido, e o vice-presidente tentava manter um equilíbrio de forças para tentar contemplar todos os setores. O governo optou por fazer uma divisão quando buscou o diálogo direto com Picciani. Isso quebrou o equilíbrio do partido e deixou sequelas”, afirmou uma fonte próxima a Temer.
“O PMDB perdeu uma institucionalidade no governo.”
O maior sinal do desconforto peemedebista é o silêncio do vice-presidente.
Nas últimas semanas, ele pouco ou nada tem conversado com a presidente. Não foi às duas últimas reuniões de coordenação política.
Nesta semana porque estava em Angola representando o governo brasileiro nas comemorações de 40 anos da independência do país, mas na semana anterior, simplesmente porque não voltou a tempo de São Paulo.
“Ele foi sacaneado. Ele se entregou plenamente à articulação política e foi torpedeado pelo Planalto.
Ele decidiu se afastar e não se tornar avalista de movimentos que ele discordava”, disse à Reuters a fonte graduada do PMDB.
Ainda assim, analisa a fonte, Temer é o que dentro do partido chamam de legalista: só aceita o rompimento com o governo com uma decisão da convenção partidária, em 2016.
Daí o seu grupo não apoiar as moções e os pedidos que um grupo mais barulhento deve apresentar no congresso da semana que vem.
“Não é o momento. Depois disso o PMDB terá cinco meses de tranquilidade até a convenção para trabalhar seus passos”, disse a fonte.