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PM pagou boleto de R$ 16,5 mil em nome da esposa de Flávio, diz MP

Investigação apontou inconsistências na contabilidade da loja de chocolates do senador — uma disparidade entre os lucros obtidos por ele e por seu sócio

Flávio Bolsonaro: senador está na mira da investigação (Wilson Dias/Agência Brasil)

Flávio Bolsonaro: senador está na mira da investigação (Wilson Dias/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 09h29.

Última atualização em 19 de dezembro de 2019 às 11h11.

Rio de Janeiro — No pedido de busca e apreensão em endereços ligados ao senador Flávio Bolsonaro e a ex-assessores de seu gabinete na Alerj, ocorridas na quarta-feira (18), promotores do Ministério Público do Rio (MP-RJ) enumeram formas que o senador teria usado para lavar o dinheiro arrecadado com a prática de rachadinha.

Uma delas teria a ajuda, segundo o MP-RJ, do sargento da Polícia Militar do Rio Diego Sodré de Castro Ambrósio, que chegou a pagar um boleto em nome da esposa de Flávio, Fernanda Antunes Nantes Bolsonaro, referente a parcela da compra de um imóvel.

A investigação do caso Queiroz identificou ao menos duas relações financeiras entre Ambrósio e Flávio Bolsonaro. Em 2016, quando Flávio e sua mulher compraram um apartamento em Laranjeiras, uma das parcelas, no valor de R$ 16,5 mil foram pagas pelo policial.

Segundo o MP-RJ, o boleto bancário estava em nome da mulher de Flávio, Fernanda Antunes Nantes Bolsonaro. Naquele ano, o capital social da empresa e Ambrósio era de R$ 20 mil, assinalam os promotores.

Os promotores também apontaram inconsistências na contabilidade da loja de chocolates, que foi alvo da operação de ontem.

Há uma disparidade entre os lucros obtidos por Flávio e por seu sócio, quando ambos detinham 50% das cotas da empresa — o que seria um novo indício de que a loja era usada para lavar dinheiro para o senador.

Alvos

Além de Flávio, estão entre os investigados pelo MP-RJ, o ex-chefe de segurança do gabinete Fabrício Queiroz e parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Bolsonaro. 

Ana Cristina, com quem Bolsonaro viveu em união estável por dez anos, entre 1998 e 2008, foi a ponte para que a família Siqueira Valle começasse a integrar a extensa lista de funcionários do clã Bolsonaro, há cerca de 20 anos.

Entre 1998 e 2007, surgiram nas listas de funcionários do gabinete de Bolsonaro os nomes de integrantes da família Siqueira Valle. O primeiro foi o pai de Ana Cristina, José Cândido Procópio Valle, nomeado em 1998.

Em seguida, foi a vez de uma prima, Juliana Siqueira Vargas, então estudante e agora funcionária da Caixa Econômica Federal (CEF).

Dois anos depois, em outubro de 2002, foram nomeadas a mãe de Ana Cristina, Henriqueta Guimarães Siqueira Valle, e a irmã, Andrea Siqueira Valle.

Nenhuma das duas completou o ensino fundamental e ambas trabalharam boa parte da vida como donas de casa. Andrea é fisiculturista, vai à academia duas vezes por dia e também vive de bicos como manicure e faxineira.

Mais tarde, em 2006, foram nomeados o irmão André Luiz Procópio Siqueira Valle, que é músico, e o primo André Luiz de Siqueira Hudson, técnico em informática.

O vendedor aposentado José Cândido Procópio da Silva Valle, de 76 anos, é pai de Ana Cristina Valle e ex-sogro do presidente Jair Bolsonaro. Ele foi nomeado no gabinete de Flávio em 2003.

Lá, teve um salário bruto que chegou a R$ 6.322,28 em 2007. Ele foi exonerado um ano depois. Durante todo o período jamais teve crachá da Alerj.

Investigações retomadas

No fim de novembro, um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o compartilhamento irrestrito de dados sigilosos de órgãos de controle financeiro como a Unidade de Inteligência Financeira (UIF), antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e a Receita Federal sem prévia autorização judicial.

Com a decisão, as investigações envolvendo Flávio e Queiroz, que estavam suspensas desde julho à espera desse julgamento, foram retomadas.

Em dezembro de 2018, um relatório do Coaf apontou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do senador, quando ainda era deputado estadual. O documento aponta Queiroz como responsável pelas movimentações.

Para ter acesso às informações, o Coaf repassou ao Ministério Público dados bancários do então deputado, o que sua defesa identificou como “quebra de sigilo fiscal e bancário”. 

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