As informações sobre a ação da Polícia Federal e as prisões chegaram às mãos de Dilma antes das 21h de ontem (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de novembro de 2014 às 08h41.
Brasília - O governo está atônito com a velocidade da Operação Lava Jato, que levou à prisão presidentes de grandes empreiteiras e o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, indicado para o cargo pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, condenado no processo do mensalão.
A maior preocupação, agora, é com a blindagem da presidente Dilma Rousseff e com a extensão do escândalo, já considerado no Palácio do Planalto como a pior crise política do governo petista desde a administração de Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma está em Brisbane, na Austrália, para participar neste fim de semana da Cúpula do G-20, o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo.
Ela se encontrava com integrantes da equipe econômica para acertar detalhes que serão apresentados durante o encontro quando soube da nova fase da Lava Jato e da prisão de Duque.
As informações sobre a ação da Polícia Federal e as prisões chegaram às mãos de Dilma antes das 21h de ontem no horário de Brisbane (perto de 9h em Brasília).
Na capital federal, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi avisado da megaoperação pelo diretor-geral da PF, Leandro Daiello, às 6h30 de ontem.
Daiello acordou Cardozo. O chefe da PF disse ao ministro que a sétima fase da Lava Jato seria avassaladora, atingindo doadores de campanha eleitoral e escancarando o esquema de corrupção que assolou a Petrobrás.
O escândalo tem potencial explosivo porque ainda faltam aparecer os nomes dos políticos envolvidos, justamente no momento em que Dilma prepara a montagem do Ministério do segundo mandato.
Até agora, porém, sabe-se que o esquema de desvio de dinheiro na Petrobrás atinge expoentes dos principais partidos da base de sustentação do governo no Congresso, alvejando o PT, o PMDB e o PP, partidos já citados nas delações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Auxiliares de Dilma tentavam ontem construir o discurso da blindagem e da contenção de danos, segundo o qual foi a presidente quem iniciou as mudanças na Petrobrás, mandando demitir diretores corruptos.
Na campanha e logo após ser reeleita, Dilma afirmou que nunca engavetou investigações, que não compactua com a corrupção e que apurações desse porte são fundamentais para o País acabar com a impunidade, "doa a quem doer".
Na prática, porém, um clima de perplexidade tomou conta do Planalto e do Congresso. O cuidado no governo é para que a blindagem de Dilma não acabe jogando luzes sobre a gestão de Lula, uma vez que tanto Duque como Costa foram nomeados na época em que ele era presidente.
A menção na Lava Jato a Marice Corrêa Lima, cunhada de João Vaccari Neto, desgasta ainda mais o tesoureiro do PT, já citado na investigação como intermediador dos recursos desviados da estatal para o partido. Marice teve mensagem eletrônica interceptada indicando, segundo o Ministério Público Federal, que um representante da OAS mandou entregar a ela R$ 110 mil. Vaccari e Marice negam as acusações.