Caso Moro: presidente Jair Bolsonaro tem evitado declarações públicas sobre os fatos em si e as mensagens que foram reveladas pelo The Intercept Brasil, mas faz gestos de apoio à figura de Moro e tirando fotos ao lado dele. Na foto, o ministro é condecorado pelo presidente um dia após as revelações das mensagens (Marcos Corrêa/Planalto/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de junho de 2019 às 12h37.
Brasília — É seguindo conselhos de ministros, militares e assessores que o presidente Jair Bolsonaro tenta se equilibrar entre duas posições após a divulgação de supostas trocas de mensagem entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol: não atrair a crise para dentro do Planalto, mas, ao mesmo tempo, "não jogar homem ao mar", ou seja, nem assumir a linha de frente e mobilizar o governo para a defesa de Moro nem simplesmente abandonar o agora ministro da Justiça, um dos principais troféus do governo.
É assim que Bolsonaro tem evitado declarações públicas sobre os fatos em si e as mensagens que foram reveladas pelo site The Intercept Brasil, mas fazendo gestos de apoio à figura de Moro e tirando fotos ao lado dele. Três dias após a divulgação, Bolsonaro e seu porta-voz, general Otávio do Rêgo Barros, praticamente não tinham se referido ao episódio, mas presidente e ministro da Justiça se reuniram na segunda-feira, 10, voltaram a se encontrar nesta quarta-feira, 12, em almoço com a presença do diretor-geral da Polícia Federal, delegado Maurício Valeixo, e acertaram ir juntos ao jogo entre CSA e Flamengo, na mesma noite, no Estádio Mané Garrincha, de Brasília, com grande visibilidade.
A princípio, a informação do governo era de que a conversa serviu para tratar de uma medida provisória que trata da apreensão de bens de traficantes. Mais tarde, o porta-voz admitiu que os vazamentos foram tema da conversa.
Na avaliação do Palácio do Planalto e dos principais interlocutores do presidente, as revelações trazem desgaste, porque mostram contatos e conversas inadequadas de um juiz com procuradores - que têm o papel de acusação em ações judiciais -, mas o principal, do ponto de vista político, é que a opinião pública continua, majoritariamente, simpática a Moro e à Operação Lava Jato.
Em resumo: pode não gostar de ver Moro envolvido numa história no mínimo mal contada, mas dá prioridade a toda a atuação e à simbologia de Moro no combate à corrupção.
Há, porém, duas dúvidas: quanto ao material ao qual o site teve acesso, graças a invasões ilegais de celulares de juízes e procuradores, e quanto aos efeitos práticos das reações e pressões do mundo jurídico, sobretudo envolvendo a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo não sabe, até agora, se o site divulgou todo o material mais comprometedor, ou se guarda cartas na manga para lançar estrategicamente, quando, e se, a pressão contra Moro aumentar. Também não sabe se as revelações podem causar uma reviravolta na condenação e nos processos de Lula, o que teria grande impacto popular.
Na versão divulgada sobre as mensagens trocadas por meio do aplicativo Telegram, Moro dava orientações aos procuradores da força-tarefa e chegou a sugerir uma testemunha de acusação contra Lula, o que vem sendo recriminado, por exemplo, por advogados, associações e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçando a nomeação de Moro para a Corte, possivelmente, no próximo ano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.