Jorge Picciani: Agrobilara era usada pelo deputado para viabilizar lavagem de dinheiro (Fernando Frazão/Agência Brasil/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de novembro de 2017 às 14h37.
São Paulo - A advogada Ana Cláudia Santos Andrade, funcionária da Agrobilara, empresa do presidente licenciado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), afirmou em depoimento à Polícia Federal que "seus patrões" deixavam o "talão de cheques em branco, todo assinado" para pagamento de contas.
O depoimento foi prestado em 14 de novembro. A advogada foi presa temporariamente na Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato.
O Ministério Público Federal da 2ª Região afirma que a Agrobilara era usada por Picciani "para viabilizar, por meio de transações de gado ora fictícias ora superfaturadas, lavagem de dinheiro oriundo de propinas recebidas pelo deputado em decorrência de sua função pública".
A Agrobilara tem como sócios, além do velho cacique do PMDB, seus filhos Felipe, preso na Operação Cadeia Velha, Leonardo (ministro dos Esportes do Governo Michel Temer) e Rafael, deputado estadual pelo mesmo partido do pai. Ana Cláudia informou à PF ser gerente financeira da Agrobilara. Ela já foi funcionária da Assembleia Legislativa do Rio.
A advogada relatou que o escritório da Agrobilara na capital fluminense tem quatro funcionários. Além dela, "Nanci, que trabalha na copa, Priscila, que trabalha com contas a receber e Júlio, que auxilia a declarante a realizar os pagamentos".
À Polícia Federal, Ana Cláudia declarou que "ao que sabe, a única atividade da Agrobilara é com o comércio de gado e não sabe informar se a referida empresa possui investimentos em outra área".
No depoimento, Ana Cláudia foi questionada sobre um saque de R$ 169.424,00 feito da conta da Agrobilara em 19 de setembro de 2012.
A advogada disse que não se lembrava especificamente do saque. "Mas que acredita que ele ocorreu para o pagamento de boletos; que esclarece que costuma pagar diversos boletos da Agrobilara juntos, normalmente através de um único cheque, o qual totaliza o valor dos boletos; que o banco pede o número do CPF de quem apresenta o cheque com os boletos a serem pagos; que nunca assinou qualquer cheque da Agrobilara; que seus patrões costumam deixar o talão de cheques em branco, todo assinado, com a declarante para que ela efetue os pagamentos necessários", afirmou em sua declaração.
A advogada informou à PF que "nunca verificou recebimento ou pagamentos de altos valores em espécie de Jorge Picciani". E que "todos os pagamentos da Agrobilara eram feitos por meio de boletos e cheques, mas nunca em espécie."
Ana Cláudia disse à Polícia Federal que "nunca teve contato com negócios da empresa Agrobilara que indicassem lavagem de dinheiro".
"Em todas as transações da Agrobilara eram emitidas notas fiscais na fazenda de Uberaba; que nunca teve conhecimento de que contratos firmados entre a Agrobilara e empresários do Rio de Janeiro estivessem subfaturados ou superfaturados; que não tem conhecimento de recebimento de valores pela Agrobilara 'por fora' dos valores contratualmente previstos", afirmou a gerente.