"É notória a vinculação de Eduardo Cunha com a referida igreja", escreveu Rodrigo Janot (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2015 às 20h12.
Brasília - Na denúncia oferecida ao Supremo Tribunal Federal contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Procuradoria-Geral da República detalha um pagamento feito à Assembleia de Deus, cujo destinatário seria o peemedebista.
O dinheiro, segundo as investigações, foi depositado pelo lobista Júlio Camargo à igreja sob falsa alegação de doação religiosa.
Segundo as investigações, Camargo recebeu do operador do PMDB no esquema da Petrobras, Fernando Soares - conhecido como Fernando Baiano -, a indicação de que deveria fazer um pagamento à igreja evangélica.
Foram realizadas duas transferências para a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, no valor de R$ 125 mil cada, totalizando R$ 250 mil, ambas no dia 31 de agosto de 2012.
Na peça encaminhada ao STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relata que "não há dúvidas de que as transferências foram feitas por indicação de Eduardo Cunha" para pagamento de parte do valor da propina referente às sondas.
"É notória a vinculação de Eduardo Cunha com a referida igreja", escreveu Janot. De acordo com a PGR, o diretor da igreja perante a Receita Federal é irmão do pastor da Assembleia de Deus em Madureira, no Rio, igreja que Cunha frequenta. Foi nesta igreja que Cunha celebrou sua eleição para a presidência da Câmara.
"É digno de nota que Júlio Camargo nunca havia feito anteriormente doações para a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, nunca frequentou referida Igreja e professa a religião católica", escreve Janot.
As pressões direcionadas a Cunha cessaram após o pagamento à Igreja, de acordo com a denúncia, e quando o peemedebista encontrou Júlio Camargo - que fez acordo de delação premiada - em um hotel no Rio cumprimentou o lobista "de maneira efusiva" e se "colocou à disposição", de acordo com depoimento de Camargo.
Cunha foi denunciado por Janot por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, acusado de receber propina no valor de US$ 5 milhões para viabilizar a construção de dois navios-sondas da Petrobras, no período entre junho de 2006 e outubro de 2012.
Cunha teria recebido vantagem para facilitar e viabilizar a contratação do estaleiro Samsung, responsável pela construção de navios-sonda.
A intermediação foi feita pelo operador do PMDB no esquema, Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. A propina foi paga pelo lobista Júlio Camargo.