Ricardo Teixeira: a decisão será tomada com base nas provas que o MP espanhol enviará ao Brasil (Harold Cunningham/Getty Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de julho de 2017 às 16h22.
Genebra - A Procuradoria-Geral da República já não descarta a prisão do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e examina informações preliminares que poderiam resultar numa detenção.
A decisão será tomada com base nas provas e documentos que o Ministério Público da Espanha enviará ao Brasil.
Na semana que vem, uma reunião de procuradores espanhóis e brasileiros poderá determinar os detalhes da cooperação e, se as informações preliminares forem confirmadas, a tendência é de que ele possa ser detido preventivamente.
O ex-cartola brasileiro foi acusado na Espanha de ser o "principal estafador" [articulador] de um esquema de desvio de dinheiro de jogos da seleção brasileira.
Outras quatro pessoas implicadas no mesmo esquema estão em prisão em Madri, sem direito à fiança. Um deles é Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona.
Num primeiro momento, porém, uma ordem internacional de prisão vai chegar ao Brasil. Mas, por enquanto, o alerta da Interpol não foi dado.
Fontes próximas ao caso explicam que a demora tem ocorrido do lado espanhol.
Uma vez que a ordem de prisão seja dada, o Ministério Público Federal vai solicitar que o processo envolvendo Teixeira seja transferido da Espanha ao Brasil, para que ele possa ser julgado no país.
Mas, dependendo do grau de detalhes e conteúdo da informação prestada, uma prisão preventiva no Brasil pode ser decretada, com vistas a evitar que o dirigente possa agir para destruir provas.
Numa apuração inicial, procuradores estimam que ele poderia responder por estelionato contra a CBF e apropriação indébita seguida de lavagem de dinheiro.
Isso tudo sem contar ainda com crimes contra a ordem fiscal e evasão de divisas.
Outra medida tomada pelo Brasil foi a de demonstrar "boa vontade" com outros pedidos que existia da Espanha para a investigação de outros casos envolvendo interesses de Madri no País.
Assim, ao cumprir diligências solicitadas pelos espanhóis em outros casos, o Brasil espera mandar um sinal de que quer acelerar a ajuda no caso envolvendo a CBF.
No dia 26, o tema ainda voltará a ser tratado por procuradores dos dois lados do Atlântico.
O encontro, que ocorre por videoconferência, já estava marcado há semanas e tratará de outros assuntos.
Mas o Brasil quer aproveitar para também tocar na cooperação relacionada com Teixeira e examinar a forma de permitir que o tema tenha continuidade.
A ordem de prisão partiu da juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional em Madri.
"Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros (cerca de R$ 30 milhões) que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última", afirmou.
A decisão da juíza é do dia 12 de junho.
Conforme o Estado revelou ainda em 2013, acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell, aliado de Teixeira e ex-presidente do Barcelona.
No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Teixeira.
Os investigadores concluem, portanto, que "parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira". De acordo com a Audiência Nacional, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o "destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)".
As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Teixeira foi "a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira".
Desde a prisão de Rosell, a defesa de Ricardo Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade.