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PF vincula Lula a planilha de propinas da Odebrecht

Polícia Federal suspeita que menções a "Amigo" em planilhas da Odebrecht se refiram ao ex-presidente Lula; Palocci seria "Italiano" e Mantega, "Pós Itália"

Odebrecht: documento do setor de propina aponta que "Amigo" (que a PF suspeita ser Lula) teria recebido R$ 23 milhões (REUTERS/Rodrigo Paiva)

Odebrecht: documento do setor de propina aponta que "Amigo" (que a PF suspeita ser Lula) teria recebido R$ 23 milhões (REUTERS/Rodrigo Paiva)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de outubro de 2016 às 07h48.

São Paulo - O relatório da Polícia Federal que indiciou criminalmente o ex-ministro Antonio Palocci por corrupção passiva, divulgado na segunda-feira, 24, pela Operação Lava Jato, afirma que codinome "Amigo" em planilhas de propinas da Odebrecht se referia ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em um documento do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht - o chamado departamento de propinas da empresa -, "Amigo" é destinatário de R$ 23 milhões.

No relatório de indiciamento, a PF afirma que, deste total, R$ 8 milhões teriam sido efetivamente repassados ao petista e "debitados" do "saldo" da "conta-corrente da propina, que correspondia ao agente identificado pelo codinome de Amigo".

A planilha indica ainda, segundo o documento da PF, que R$ 6 milhões teriam sido pagos a "Italiano" - que seria Palocci - e R$ 50 milhões a "Pós Itália", referência ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Os investigadores alegam que chegaram aos R$ 8 milhões por meio do cruzamento de valores debitados do saldo total do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira. O setor era responsável pelo pagamento de propina a políticos, agentes públicos e ex-dirigentes da Petrobrás, segundo a Lava Jato.

A PF afirma que a conclusão sobre a "alcunha" de Lula tem "respaldo probatório e coerência investigativa". Ela se baseia em e-mails e mensagens da cúpula da Odebrecht que fazem referência a Emílio Odebrecht como a sigla EO - patriarca do Grupo Odebrecht e pai de Marcelo Odebrecht - e, em várias ocasiões, à expressão "amigo de EO" que coincide com eventos que tiveram a participação do ex-presidente.

Em troca de mensagens de 30 de janeiro de 2014, por exemplo, o executivo Alexandrino Alencar encaminha a Marcelo Odebrecht uma programação de eventos do "amigo de EO", incluindo uma viagem a Cuba no dia 24 de fevereiro. As datas coincidem com a viagem de Lula à Cuba, tendo feito inclusive uma palestra em Havana em 26 de fevereiro, ligada à Odebrecht.

Em outro e-mail de 2013, Alexandrino afirma que está definida a data de uma viagem entre 3 e 6 de junho para o Peru, Equador e Colômbia, também com referência a "amigo de seu pai". A viagem do ex-presidente para aqueles países naquela data realmente ocorreu.

"Luiz Inácio Lula da Silva era conhecido pelas alcunhas de 'Amigo de meu pai' e 'Amigo de EO', quando usada por Marcelo Bahia Odebrecht e, também, por 'Amigo de seu pai' e 'Amigo de EO', quando utilizada por interlocutores em conversas com Marcelo Bahia Odebrecht", diz o relatório subscrito pelo delegado federal Filipe Hille Pace.

Lula não foi indiciado porque não é alvo deste inquérito. Pace diz no relatório que esta parte da investigação está sob responsabilidade do delegado federal Márcio Adriano Anselmo.

O ex-presidente já foi denunciado pela força-tarefa e é réu na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro - ele foi acusado de receber R$ 3,7 milhões da OAS em forma de propinas na reforma do triplex no Guarujá e na armazenagem de bens pessoais. Lula também é alvo de outros inquéritos na primeira instância da operação em Curitiba.

Sobre a citação feita pelo delegado Pace, a defesa do ex-presidente disse que o posicionamento é um "abuso" e não pode ser tratado como oficial. "Uma autoridade que não é a responsável pelas investigações em relação a Lula, emitiu sua 'convicção', sem lastro, para atacar a honra e a reputação do ex-presidente".

Em manifestações de seus advogados ou próprias, Lula tem afirmado que não recebeu vantagens indevidas e é vítima de perseguição política da Lava Jato.

Indiciamentos

Palocci, que está preso desde a Operação Omertà, a 35ª fase da Lava Jato, em 26 de setembro, foi indiciado por corrupção passiva. Além do ex-ministro da Fazenda, foram enquadrados seu ex-assessor, Branislav Kontic, o casal de marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, e Juscelino Dourado, ex-assessor de Palocci.

A investigação aponta que, entre 2008 e 2013, foram pagos mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes, incluindo o ex-ministro.

Relatório

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é citado no relatório da Polícia Federal que indiciou o ex-ministro Antonio Palocci como sendo "Amigo", codinome encontrado em planilhas de propinas da Odebrecht. A defesa de Lula diz que "Lava Jato não apresentou qualquer prova que possa dar sustentação às acusações".

R$ 23 mi é o valor citado em documento da Odebrecht destinado a 'Amigo'

R$ 8 mi deste total teriam sido debitados da 'conta-corrente da propina'

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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