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PF vai investigar se Bolsonaro interferiu em operações que atingiriam filhos

Bolsonaro trocou o diretor-geral da PF quatro vezes durante seu mandato, um procedimento incomum

Jair Bolsonaro: o ex-presidente ainda está em Orlando (Leandro Fonseca/Exame)

Jair Bolsonaro: o ex-presidente ainda está em Orlando (Leandro Fonseca/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de janeiro de 2023 às 18h16.

Última atualização em 19 de janeiro de 2023 às 18h26.

A Polícia Federal vai apurar, em procedimentos internos, se houve pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro para aliviar investigações de familiares e pessoas ligadas a ele durante seu mandato. Segundo apurou o Estadão, procedimentos internos serão instaurados para avaliar se houve da parte de policiais omissões ou ações deliberadas para alterar investigações sensíveis ao Palácio do Planalto nos últimos quatro anos.

Bolsonaro trocou o diretor-geral da PF quatro vezes durante seu mandato, um procedimento incomum. Ocuparam o cargo os delegados federais Maurício Valeixo, Rolando de Souza, Paulo Maiurino e, por último, Márcio Nunes. O ex-presidente chegou a ser impedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de nomear Alexandre Ramagem para a direção da PF por suspeitas de que ele seria nomeado para interferir em investigações.

Um dos primeiros atos do novo chefe da PF, delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, foi trocar 18 superintendentes nos estados. Entre eles, o do Rio de Janeiro, reduto político de Bolsonaro e onde ele promoveu várias substituições nomeando pessoas de sua confiança em cargos que deveriam ser técnicos.

Bolsonaro foi investigado pela PF por divulgação de notícia falsa relacionando a vacina contra a covid à contaminação pelo HIV. O ex-presidente também foi alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), em 2020, por suspeita de interferência política na PF, após a saída do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

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Ao deixar o cargo, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente no comando da instituição para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de inteligência. Na ocasião, o então diretor-geral Mauricio Valeixo havia sido demitido por Bolsonaro acusado de não repassar a ele informações sigilosas. Na avaliação de Moro, a interferência política poderia levar a "relações impróprias" entre o diretor da PF e o presidente da República.

A saída de Moro ocorreu dias após uma reunião ministerial na qual Bolsonaro vociferou. "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f** minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura", disse. "Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."

As ameaças foram cumpridas. O delegado Hugo de Barros Correa, que havia sido superintendente da Polícia Federal no DF, foi removido para uma função burocrática após atuar no inquérito das fake news e investigar Jair Renan, quarto filho de Bolsonaro.

A delegada Silvia Amelia da Fonseca, que deu andamento ao processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, foi exonerada da diretoria do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI).

O delegado Franco Perazzoni, que conduziu a operação que mirou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, teve seu nome barrado para assumir a chefia do combate ao crime organizado. O ex-superintendente da PF no Amazonas Alexandre Saraiva foi exonerado após acusar Salles de crime ambiental.

Novo diretor-geral

Após a mudança de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues para comandar a PF. O novo chefe da PF foi o responsável pela segurança do petista na campanha eleitoral. Depois da eleição, foi escalado para o Grupo de Trabalho de Justiça e Segurança Pública e coordenou o Grupo de Trabalho de Inteligência Estratégica.

O governo nomeou nesta quarta novas chefias para 18 unidades da PF nos Estados. Os delegados Rogério Giampaoli e Leandro Almada da Costa são os novos superintendentes de São Paulo e Rio, respectivamente. As delegadas Larissa Freitas Carlos Perdigão, no Rio Grande do Nortes, Marcela Rodrigues de Siqueira Vicente, em Goiás, e Tatiana Alves Torres, em Minas Gerais, também tiveram seus nomes publicados no Diário Oficial da União.

O ex-ministro Anderson Torres, que é delegado da PF, reassumiu a função de secretário de Segurança do Distrito Federal assim que Lula tomou posse. Após os atos de vandalismo na capital no dia 8 de janeiro, Torres teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Torres, que estava nos Estados Unidos, voltou ao País e está preso.

Na mesma edição, foram dispensados 26 chefes de superintendências da Polícia Rodoviária Federal nos Estados e no Distrito Federal. Apenas o Piauí não teve o comando dispensado nesta quarta. Os nomes dos substitutos não foram publicados. Silvinei Vasques, o diretor da PRF na gestão Bolsonaro, foi acusado de agir para impedir que eleitores de Lula conseguissem votar promovendo do segundo turno da eleição presidencial uma fiscalização em ônibus de eleitores do petista.

O ex-presidente Bolsonaro está em Orlando e a reportagem não conseguiu contato com sua assessoria.

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