Brasil

Grupo Petrópolis lavou R$ 329 milhões da Odebrecht, diz Lava Jato

Nova fase da operação investiga o pagamento de propinas travestidas de doações eleitorais pelo grupo cervejeiro

PF: Polícia Federal deflagrou uma nova fase da operação Lava Jato (Vagner Rosário/VEJA)

PF: Polícia Federal deflagrou uma nova fase da operação Lava Jato (Vagner Rosário/VEJA)

R

Reuters

Publicado em 31 de julho de 2019 às 09h35.

Última atualização em 31 de julho de 2019 às 11h04.

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira executivos do Grupo Petrópolis como parte de uma nova fase da operação Lava Jato, desta vez em investigação sobre pagamento de propinas travestidas de doações eleitorais pelo grupo cervejeiro em parceria com a Odebrecht, informaram a PF e o Ministério Público Federal (MPF).

Segundo o Ministério Público, o empresário Walter Faria, controlador do Grupo Petrópolis, teve mandado de prisão preventiva expedido contra ele pela Justiça Federal do Paraná, e outros cinco executivos são alvos de mandados de prisão temporária. As autoridades não informaram de imediato quantas prisões foram cumpridas no início da manhã.

O Grupo Petrópolis é suspeito de ter lavado 329 milhões de reais entre 2006 e 2014 no interesse da Odebrecht, e também teria utilizado conta na Suíça para intermediar o repasse de mais de 3 milhões de dólares de propina da Odebrecht relacionada a contratos dos navios-sonda da Petrobras, de acordo com o MPF.

Em contrapartida, a empreiteira investia em negócios do grupo investigado.

As investigações da PF e do MPF apontaram para o pagamento de propinas travestidas de doações de campanha eleitoral realizada por empresas do grupo, que também teria auxiliado a Odebrecht a pagar valores ilícitos de forma oculta através da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior.

"A suspeita é que offshores relacionadas ao Grupo Odebrecht realizavam — no exterior — transferências de valores para offshores do grupo investigado, o qual disponibilizava dinheiro em espécie no Brasil para realização de doações eleitorais", afirmou a PF em comunicado.

"O esquema desenvolvido com o grupo investigado é uma das engrenagens do aparato montado pela Odebrecht para movimentar valores ilícitos destinados sobretudo para pagar propina a funcionários públicos da Petrobras e da administração pública brasileira e estrangeira", acrescentou.

De acordo com a PF, um executivo da Odebrecht disse em delação premiada que o grupo investigado na nova fase da Lava Jato foi utilizado para realizar doações de campanha de outubro de 2008 a junho de 2014, o que resultou em dívida de 120 milhões de reais não contabilizada pela Odebrecht com o grupo.

A investigação também visa apurar suspeita de lavagem de dinheiro por parte de um dos executivos do grupo investigado que regularizou em 2017, mediante declaração falsa no programa de repatriação fiscal, mais de 1,3 bilhão de reais que estavam no exterior, acrescentou a PF.

"Há indícios de que essa regularização tenha sido irregular, em razão da suspeita de que os valores seriam provenientes da prática de caixa dois na empresa, com origem em um sofisticado esquema de sonegação tributária que contava com a burla de medidores de produção de cerveja, a qual era então vendida diretamente a pequenos comerciantes em espécie, sendo os valores então entregues a couriers da Odebrecht", afirmou.

Procurado, o Grupo Petrópolis não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre a nova fase da operação Lava Jato.

A Odebrecht também não respondeu de imediato a um pedido de posicionamento. A empresa afirma que "tem colaborado de forma eficaz com as autoridade", sempre que citada em investigações realizadas com base em delações de seus executivos e ex-executivos.

Além dos seis mandados de prisão, a Justiça Federal do Paraná também emitiu 33 mandados de busca e apreensão a serem cumpridos nos municípios de Boituva, Fernandópolis, Itu, Vinhedo, Piracicaba, Jacareí, Porto Feliz, Santa Fé do Sul, Santana do Parnaíba e São Paulo, todos em SP; Cuiabá; Cassilândia (MS); Petrópolis e Duque de Caxias (RJ); e Belo Horizonte.

Também foi determinada ordem judicial de bloqueio de ativos financeiros dos investigados.

"As investigações apontam para um esquema milionário de lavagem de dinheiro em que o Grupo Petrópolis atuou em favor da Odebrecht na gestão, disponibilização e destinação de valores ilícitos", disse o procurador Felipe D'Elia Camargo, em comunicado do MPF.

"Foram identificados bens milionários, adquiridos a partir das contas utilizadas para o pagamento de propina, que ainda são mantidos no exterior. Isso reforça a necessidade de a Lava Jato continuar as investigações para esclarecer os fatos e buscar a recuperação daquilo que foi desviado dos cofres públicos".

Acompanhe tudo sobre:Novonor (ex-Odebrecht)Operação Lava JatoPolícia Federal

Mais de Brasil

Quem é o pastor indígena que foi preso na fronteira com a Argentina

Oito pontos para entender a decisão de Dino que suspendeu R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão

Ministro dos Transportes vistoria local em que ponte desabou na divisa entre Tocantins e Maranhão

Agência do Banco do Brasil é alvo de assalto com reféns na grande SP