PF: o empresário Marco Antônio de Lucca foi preso em um apartamento de frente para a praia em Ipanema (Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 1 de junho de 2017 às 07h52.
Última atualização em 1 de junho de 2017 às 17h37.
Rio de Janeiro - A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira um empresário acusado de pagar pelo menos 12,5 milhões de reais em propina a agentes públicos em um esquema criminoso de desvio de recursos destinados ao fornecimento de merenda escolar e alimentação de presos no estado do Rio de Janeiro, em novo desdobramento das investigações da operação Lava Jato.
As investigações apontam também que empresa ligada ao empresário detido, Marco Antônio de Luca, firmou seis contratos de prestação de serviços com o Comitê Rio 2016, organizador dos Jogos Olímpicos do ano passado, e as autoridades pediram esclarecimentos sobre esses acordos.
O empresário foi preso em um apartamento de frente para a praia em Ipanema, e, nos endereços visitados nesta quinta-feira para o cumprimento de mandados de busca e apreensão, foram apreendidos carros, obras de arte, jóias, carros e dinheiro em espécie.
O empresário será indiciado por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Desdobramentos das investigações da operação Lava Jato revelaram enorme esquema de corrupção no governo do Rio de Janeiro sob gestão do ex-governador Sérgio Cabral (2007 a 2014), que está preso desde novembro do ano passado acusado de receber milhões em propina no Brasil e no exterior.
A nova etapa da investigação recebeu o nome de Ratatouille, prato típico da culinária francesa escolhido para fazer referência a um jantar em restaurante de alto padrão em Paris no qual estavam presentes diversas autoridades públicas do Estado do Rio e empresários que possuíam negócios com o Estado, sob o comando de Cabral.
Segundo as investigações da Ratatouille, a empresa ligada ao empresário preso nesta quinta pagou cerca de 12,5 milhões de reais em propina ao grupo ligado ao ex-governador para fechar contratos de prestação de serviços de alimentação para vários setores do Estado, como a rede de ensino público e presídios.
A empresa Masan Serviços Especializados, uma das maiores contratadas pelo Estado do Rio de Janeiro para fornecimento de merenda escolar e alimentação aos detentos, recebeu o total de 2,1 bilhões de reais em contratos com o governo, segundo o Ministério Público Federal.
No curso da investigação, chamou atenção o crescimento na quantidade e valor global de contratos do grupo empresarial ligado ao empresário a partir de 2010.
A Masan, que possuía apenas dois contratos em 2008 no valor de 2,3 milhões de reais, chegou a ter 26 contratos em 2015.
Já a Comercial Milano Brasil Ltda, pertencente ao mesmo grupo familiar, chegou a ter 41 contratos em 2016, no valor de 300 milhões de reais, de acordo com o MPF.
Em nota, a Masan informou que Marco de Luca não faz parte da empresa desde agosto de 2015 e que ele nunca participou do quadro societário da Milano. Acrescentou que a Masan trabalha com o governo do Rio desde 2005, antes da administração Cabral.
"Todas as licitações ganhas pela empresa foram pela modalidade de menor preço. A Masan ressalta ainda que nunca foi condenada por qualquer tipo de irregularidade em sua história", disse.
O esquema de cobrança de propina teria continuado após a saída do governador Sérgio Cabral, por isso a suspeita sobre os contratos do grupo com os organizadores dos Jogos Olímpicos.
“Existem indicativos de pagamento de propina após a saída de Sérgio Cabral, e concomitante tivemos a preparação para os Jogos Olímpicos”, disse a procuradora Fabiana Schneider.
O comitê Rio 2016 informou que aguarda a demanda das autoridades para apresentar os esclarecimentos necessários.