Sérgio Cabral: as investigações apontam que Suzana Neves utilizou sua empresa para ocultar a origem ilícita de R$ 1.266.975,00 (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de maio de 2017 às 14h18.
São Paulo - A pedido do Ministério Público Federal, a 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro expediu dois mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Suzana Neves, ex-mulher do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB).
Em nota, a força-tarefa da Lava Jato, no Rio, informou que os mandados estão sendo cumpridos pela Polícia Federal nesta segunda-feira, 8, em Araras (RJ) e São João del-Rei (MG).
A partir de fatos apurados nas Operações Calicute e Eficiência, identificou-se que Suzana Neves comprou, em nome de sua empresa Araras Empreendimentos Consultoria e Serviços Ltda., um imóvel em São João del-Rei por R$ 600 mil sem que, aparentemente, tivesse recursos de origem lícita compatível.
O MPF apura se o imóvel está sendo utilizado para guardar bens de valor adquiridos com recursos ilícitos da organização chefiada por Cabral, como obras de arte, por exemplo, pois informantes relataram que, nos meses de janeiro e fevereiro de 2017, houve o descarregamento de um "container de quadros" na casa.
Além disso, a Receita Federal detectou que a Araras Empreendimentos teve movimentação financeira incompatível com a receita bruta declarada e distribuiu lucros e dividendos incompatíveis com as receitas auferidas, nos exercícios de 2007 a 2009 e de 2011 a 2015.
O levantamento demonstra que a sede da empresa é a própria residência de Suzana, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, e que não há nenhum empregado registrado.
As investigações também apontam que Suzana Neves utilizou sua empresa para ocultar a origem ilícita de R$ 1.266.975,00.
Entre 25 de outubro de 2011 e 13 de dezembro de 2013 foram identificadas 31 transferências bancárias de recursos oriundos do grupo de empresas da empreiteira FW Engenharia, por intermédio da empresa Survey Mar e Serviços Ltda, que realizou pagamentos à Araras Empreendimentos a título de serviços de consultoria em valor quase duas vezes maior que a sua renda bruta declarada.
Quase 50% dos valores recebidos pela Survey da FW no período analisado pela investigação foram repassados logo em seguida para a empresa de Suzana Neves.
Toda a movimentação aponta para lavagem de dinheiro pago como propina à organização criminosa em contratos que o Governo do Estado do Rio de Janeiro firmou com a FW Engenharia.
Em diligências de busca e apreensão autorizadas durante a Operação Calicute, foram apreendidas diversas anotações que indicam o pagamento de propina pela empreiteira FW Engenharia em benefício da organização criminosa chefiada por Cabral.
Um dos contratos firmados com a empresa, no valor de R$ 35 milhões, teve por objeto a elaboração de projeto executivo e a execução de obras complementares de urbanização no Complexo de Manguinhos, comunidade beneficiada pelo PAC Favelas.
A contratação foi financiada com recursos da União provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento.
As oito denúncias já apresentadas pela força-tarefa da Lava Jato, no Rio, apontam "como Sérgio Cabral instituiu, ao assumir o Governo do Rio de Janeiro, em 2007, um esquema de cartelização de empresas e favorecimento em licitações, mediante pagamento de propina de cerca de 5% em todas as grandes obras públicas de construção civil contratadas junto ao ente público, quase sempre custeadas ou financiadas com recursos federais".
As investigações demonstram que a organização desviou mais de US$ 100 milhões dos cofres públicos mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos de propina para o exterior.