Ciro Nogueira: PGR suspeita que senador e deputado Eduardo da Fonte tentaram comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com as investigações da Lava Jato (Waldemir Barreto/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de abril de 2018 às 17h28.
Última atualização em 24 de abril de 2018 às 18h53.
Brasília - A Polícia Federal apreendeu cerca de R$ 200 mil na residência do presidente nacional do Partido Progressista (PP), o senador Ciro Nogueira.
A informação sobre apreensão de valores foi confirmada pelo advogado do senador, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Nogueira teve o gabinete no Senado Federal e a residência em Teresina (PI) alvos de busca e apreensão da PF nesta terça-feira, 24.
A Procuradoria-Geral da República suspeita que o senador e o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), o Dudu da Fonte, tentaram comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com as investigações da Lava Jato que miram a suposta participação dos dois em uma organização criminosa. O deputado também foi alvo de busca.
De acordo com Kakay, o fato da PF ter encontrado valores na residência do senador é "facilmente justificada, pois o Senador tem em seu IR (imposto de renda) valores em moeda regularmente declarados."
"Ademais, dentro dos cofres localizados na residência, cujas senhas foram voluntariamente fornecidas pelo casal, também tinham pertences e valores particulares de sua esposa, que é deputada federal", disse Kakay que avisou que irá solicitar a devolução dos valores.
Segundo a PGR, tentativa de obstrução da investigação inclui o pagamento de despesas pessoais, ameaças e até proposta para a mudança do teor de depoimento que incriminaria os alvos da operação de hoje. O objetivo das medidas cautelares cumpridas na manhã de hoje, diz o MPF, é reunir mais provas de que houve atuação para compra de silêncio.
Além das buscas, a PF cumpriu um mandado de prisão contra o ex-deputado Márcio Junqueira, que seria ligado ao senador. Além dos gabinetes ocupados pelos parlamentares no Congresso Nacional e dos respectivos apartamentos funcionais, em Brasília, foram realizadas buscas em endereços residenciais na capital federal, em Teresina (PI), Recife (PE) e Boa Vista (RR).
Inquérito
A operação de hoje tem relação com um inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal em setembro passado, no âmbito da Lava Jato, para apurar repasses a políticos do Partido Progressista - do qual Nogueira é presidente.
Depois de um desmembramento no inquérito na semana passada, o que segue sendo investigado no inquérito é o repasse de R$ 1,6 milhão aos deputados federais Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Arthur Lira (PP-AL), Eduardo da Fonte (PP-PE) e ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), em 2011, por meio de um contrato fictício com a empresa KFC Hidrossemeadura, pertencente a Leonardo Meirelles e o grupo Queiroz Galvão.
Defesa
A defesa do Senador Ciro Nogueira deseja esclarecer que a busca e apreensão efetuada na residência e no gabinete do Senador, embora a defesa entenda que foi absolutamente desnecessária, ocorreu rigorosamente dentro da legalidade, em cumprimento a ordem emanada de Ministro do Supremo. Na residência não houve documento apreendido e a apreensão de montante em espécie é facilmente justificada, pois o Senador tem em seu IR valores em moeda regularmente declarados. Ademais, dentro dos cofres localizados na residência, cujas senhas foram voluntariamente fornecidas pelo casal, também tinham pertences e valores particulares de sua esposa, que é deputada federal. Os poucos documentos apreendidos no gabinete do Senador não causam nenhuma preocupação. A afirmação de que o Senador, de alguma maneira, pudesse ter feito qualquer movimento a ser equivocadamente entendido como tentativa de obstrução é, nas palavras do Senador, completamente fora da realidade. Sequer en passant o Senador praticou qualquer ato que pudesse ser interpretado como tentativa de embaraço. A defesa reitera que o Senador Ciro continua à disposição do Poder Judiciário para todo e qualquer esclarecimento, como sempre esteve.