Michel Temer - Vidar Ruud/NTB Scanpix/Reuters (Vidar Ruud/NTB Scanpix/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de junho de 2017 às 20h02.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 20h47.
São Paulo – A perícia da Polícia Federal (PF) concluiu que a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista, da J&F, e o presidente Michel Temer, em 7 de março no Palácio do Jaburu, não foi editada. As informações são dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
O laudo, no entanto, admite interrupções na conversa, ainda de acordo com o jornal. Segundo os peritos, o gravador usado por Batista durante o diálogo pausa a gravação automaticamente em momentos de silêncio e retoma quando identifica som. No total, o áudio apresenta mais de 100 interrupções que teriam sido classificadas como “naturais” pelos peritos.
Se a perícia tivesse identificado alterações no áudio, a defesa do presidente poderia questionar o valor da gravação em si como prova, e, no limite, levar à sua inutilização. Constatada a fraude, a própria delação de Joesley estaria sob risco -- já que ele teria quebrado uma das cláusulas do contrato.
A expectativa agora é que o resultado da perícia seja anexado à denúncia contra Temer que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar nos próximos dias.
O laudo contesta uma das principais teses da defesa de Temer em torno dos questionamentos à integridade dos áudios. Na última quinta-feira, o responsável pela defesa do presidente, o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, admitiu que seria difícil pedir a anulação do acordo de colaboração premiada de Joesley Batista se a PF não mostrasse adulteração na gravação da conversa do empresário com Temer.
Dias depois da divulgação das gravações, o perito Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente Michel Temer, afirmou que a gravação da conversa é “imprestável”. “Em um processo normal, essa gravação sequer seria aceita como prova em função dos excessos de vícios que ela tem”, afirmou o perito. “Ela só está sendo levada a sério diante dos aspectos políticos que a circundam”.
Como é feita uma perícia criminal?
O perito criminal não trabalha sem solicitação. Portanto, é preciso que um interessado solicite a perícia. A partir desse momento, são três etapas de trabalho.
Primeiro, a oitiva, ou seja, uma audição preliminar, na qual alguns ouvidos treinados já podem detectar irregularidades. Depois, vem a análise pormenorizada, que é feita por meio de softwares especializados, que usam algoritmos para detectar alterações nas ondas sonoras.
Por fim, há a análise contextual, que avalia os diálogos e discursos, se o que está sendo dito tem sequência lógica. Este resultado gera um documento, o laudo pericial, que tem valor de prova.
Os governos têm um corpo de peritos oficiais que fazem parte da polícia ou de um órgão separado na segurança pública. Os peritos criminais federais, por exemplo, fazem parte da Polícia Federal. A perícia é uma das carreiras da PF. Nos estados, no entanto, a perícia nem sempre está ligada à polícia, varia de um para o outro.
Como a perícia sabe que as interrupções foram feitas pelo gravador?
Cada gravador digital tem o ruído interno do seu funcionamento e existe o ruído ambiental. Trabalha-se com os dois para saber se houve ou não uma edição do som, com o software específico de análise de ondas sonoras. Por isso, não dá para fazer análise tão rapidamente. Um perito vai analisar de milissegundo a milissegundo.
Por que a perícia da PF é diferente das perícias feitas por especialistas contratados pela imprensa ou pela defesa do presidente?
A questão é que as análises que foram feitas são chamadas informalmente de perícia, mas são só avaliações preliminares, segundo os especialistas. Uma perícia de gravação digital é cara e a demanda por esse serviço é baixa. Basicamente, peritos independentes não têm condições financeiras de fazer uma análise científica nas mesmas condições que os técnicos oficiais. Muitos treinamentos, inclusive, são fechados para peritos já formados, que trabalham para o Estado.