Kassab: além dos R$ 301 mil, a PF apreendeu documentos na residência de Kassab (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de dezembro de 2018 às 11h58.
Última atualização em 19 de dezembro de 2018 às 12h00.
A Polícia Federal (PF) encontrou R$ 301 mil em dinheiro vivo no apartamento do ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação).
O dinheiro foi encontrado durante buscas realizadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (19). Kassab (PSD) é alvo da delação premiada de executivos do grupo J&F.
A partir de janeiro, Kassab, que já foi prefeito da capital paulista, será o secretário da Casa Civil do Governo João Doria (PSDB), em São Paulo.
Além dos R$ 301 mil, a PF apreendeu documentos na residência de Kassab, um apartamento situado nos Jardins, bairro nobre da zona sul paulistana.
Ao todo, a PF cumpre nesta quarta-feira oito mandados de busca e apreensão. Além de Kassab, são alvo de mandados endereços relacionados ao governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria.
Os federais também fazem busca em endereços ligados a Renato Kassab, irmão do ministro.
Segundo a PF, o objetivo da ação é "investigar o recebimento de vantagens indevidas", entre os anos de 2010 a 2016, por parte de Kassab. Os repasses teriam sido feito pelo Grupo J&F, de Joesley e Wesley Batista.
Kassab afirma, em nota, "que confia na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa" e diz saber "que as pessoas que estão na vida pública estão corretamente sujeitas à especial atenção do Judiciário".
O ministro reforça "que está sempre à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários e ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público".
Segundo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, Kassab recebeu R$ 58 milhões do grupo J&F, dono da JBS.
De acordo com a PGR, os delatores da J&F Wesley Batista e Ricardo Saud relataram que Kassab recebeu pagamentos mensais de 350 mil reais da empresa controladora da JBS entre 2010 e 2016 para colocar sua influência a favor do grupo, totalizando 30 milhões de reais.
Outros 28 milhões de reais foram pagos ao Diretório Nacional do PSD, na época presidido por Kassab, para garantir o apoio da legenda ao PT na eleição nacional de 2014, acrescentou a PGR.
“Segundo um dos colaboradores, todos os valores repassados eram provenientes de uma espécie de conta-corrente de vantagem indevida vinculada ao PT, que teria autorizado os pagamentos”, disse a PGR em comunicado.
“Neste caso, o repasse foi operacionalizado por meio de doações oficiais de campanha e outros artifícios como a quitação de notas fiscais falsas. Também há registro da entrega de dinheiro em espécie”.
A PF, que por regra não identifica os alvos das operações, disse que a ação tem como objetivo investigar o recebimento de vantagens indevidas por parte de um ex-prefeito de São Paulo atualmente exercendo o cargo de ministro.
Segundo a PF, as vantagens ilegais recebidas teriam sido solicitadas a um "grande grupo empresarial do ramo dos frigoríficos", que teria efetuado o pagamento em troca da defesa dos interesses do grupo, bem como para direcionar o apoio político na campanha presidencial de 2014.
Parte dos recursos também teria sido encaminhada para a campanha de um candidato ao Governo do Rio Grande do Norte e a um deputado federal, ambos eleitos, de acordo com a PF.
"Suspeita-se que os valores eram recebidos por empresas, através da simulação de serviços que não foram efetivamente prestados e para os quais foram emitidas notas fiscais falsas", disse a PF, acrescentando que são investigados os crimes de corrupção passiva e falsidade ideológica eleitoral.