Um policial militar em posição na Vila Kennedy durante uma operação para instalar uma UPP na região, no Rio de Janeiro (REUTERS/Ricardo Moraes)
Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2014 às 18h44.
Rio - Com a maior crise já enfrentada pelas Unidades de Polícia Pacificadora desde a criação do projeto, em dezembro de 2008, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), está adotando uma série de medidas emergenciais para fortalecer a principal vitrine da atual administração na área de segurança para sua candidatura à reeleição.
Levantamento feito pela reportagem revela que, desde fevereiro, houve pelo menos 20 ataques de traficantes em áreas pacificadas, com quatro PMs mortos e seis baleados. O recrudescimento da violência nestes locais começou em meados do ano passado, mas foi a partir do último mês que surgiram protestos de moradores exigindo "o fim das UPPs".
Especialistas em segurança avaliam que as autoridades estão perdendo a "guerra da comunicação" na defesa do projeto. Principalmente por causa de episódios como as mortes do pedreiro Amarildo de Souza (na Rocinha) e do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG (no Pavão Pavãozinho).
"Não se faz segurança pública sem a presença das polícias Militar e Civil. É uma utopia achar que a gente vence essa guerra sem fortalecer o policiamento. Hoje nós temos a presença da polícia e vamos agir fortemente com todas nossas forças policiais dentro dessas comunidades pacificadas. Vamos levar a paz a mais territórios", disse Pezão num vídeo publicado em seu perfil no Facebook.
Numa ofensiva para defender seu carro-chefe na área de segurança, o governador anunciou a implantação de uma delegacia da Polícia Civil no Complexo da Maré (zona norte). A região está ocupada há quase um mês por militares do Exército e da Marinha, para futura instalação de UPPs. A delegacia da Maré será a terceira em grandes favelas pacificadas.
Outras duas foram inauguradas no fim do ano passado na Rocinha (zona sul) e no Complexo do Alemão (zona norte). A ideia é reforçar a presença do Estado e facilitar a investigação de crimes nestes locais. Em setembro do ano passado, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, prometeu que o Complexo de Manguinhos (zona norte) também ganhará uma delegacia própria, mas ainda não há data estipulada.
Também será criada uma ouvidoria exclusiva para receber denúncias (anônimas ou não) sobre a atuação de PMs em comunidades pacificadas. Haverá um número de telefone, um site e uma unidade móvel, que ficará cada semana em uma favela pacificada.
Segundo o governador, até agosto serão formados 2.400 novos policiais militares. Atualmente o efetivo da corporação é de 47 mil agentes, sendo que 9.500 atuam nas 38 UPPs já em funcionamento.
O governo também pretende continuar enviando chefes do tráfico para penitenciárias federais de segurança máxima fora do Estado, sobretudo aqueles ligados ao Comando Vermelho, facção acusada de comandar a recente onda de ataques a UPPs. Dentro dessa política, a Justiça do Rio autorizou a transferência do traficante Bruno Eduardo Procópio da Silva, o Piná, para um presídio federal.
Também serão solicitadas as transferências de Eduardo Fernandes de Oliveira, o 2D, e de Ramires Roberto da Silva. Os três são acusados de comandar ou participar de atos violentos e morte de policiais, como a soldado Alda Rafael Castilho, assassinada em fevereiro. Piná e 2D foram presos no último dia 21 em Búzios, na Região dos Lagos. Já Ramires foi detido no último domingo, no Complexo da Penha (zona norte do Rio).
O pedido de ajuda às Forças Armadas para a ocupação da Maré também se enquadra no contexto, já que a área receberá UPPs até o fim do ano. Com isso, será cumprida a promessa inicial do governo de implantar 40 UPPs até o fim de 2014. A princípio, os militares do Exército e da Marinha atuarão no conjunto de favelas até 31 de julho, depois da Copa do Mundo. Mas tudo indica que o prazo será prorrogado, pelo menos até as eleições de outubro.