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Pesquisas acadêmicas continuam durante greve das federais

Embora as graduações estejam paralisadas, parte dos programas de pós-graduação mantiveram calendário normal e devem retornar às atividades este mês

Pátio de universidade: apesar da paralisação das graduações, alguns programas de pós-graduação mantiveram o calendário e devem retornar às atividades neste mês (Alexandre Battibugli/Site Exame)

Pátio de universidade: apesar da paralisação das graduações, alguns programas de pós-graduação mantiveram o calendário e devem retornar às atividades neste mês (Alexandre Battibugli/Site Exame)

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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2012 às 10h15.

Rio de Janeiro – A greve nas instituições federais de ensino tem impacto diferente na graduação, na pós-graduação e na pesquisa. Segundo professores ouvidos pela Agência Brasil, embora a graduação esteja parada em praticamente todas as universidades, ainda que alguns cursos não tenham aderido, parte dos programas de pós-graduação manteve seu calendário normal e deve retomar às atividades este mês e é comum os núcleos de pesquisa das instituições manterem as atividades no período de greve.

“A greve é um estado estranho para nós da academia. Muitas das categorias quando entram em greve assumem as consequências [da paralisação]. Quando terminar a greve, os professores vão ter de repor estas aulas nas férias”, disse o professor associado da Escola de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), André Lemos, representante da área de comunicação no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência de fomento à produção científica ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Segundo Lemos, os programas de pós-graduação não param. O professor informou que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão responsável pela avaliação dos cursos de pós-graduação stricto sensu no país, enviou documento ao programa do qual ele faz parte na UFBA, que, segundo Lemos, deve ter circulado em outros programas de pós-graduação do país, e informou que nenhum calendário será alterado. “Prazo de bolsas, editais, toda a burocracia das agências está mantida, como se não estivéssemos em greve”, disse. Capes e CNPq foram procuradas, mas não se manifestaram.


Tema polêmico - Apesar da paralisação parcial ser prática comum, o tema é polêmico e divide órgãos decisórios dentro das universidades durante a greve. O professor da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor da associação de docentes da instituição, Mauro Iasi, disse que o conselho de pós-graduação da escola não se posicionou, por não ser possível encontrar um consenso entre seus membros.

“Isso é muito desigual dentro da universidade. O conselho de pós-graduação empacou na discussão sobre suspender as atividades. Ficou dividido ao meio entre os professores que apoiavam a greve e desejavam suspender o calendário e aqueles que preferiram mantê-lo. Isso mostra que há no mínimo uma divisão na universidade entre manter a greve e qual o peso da greve na pós-graduação”, disse Iasi, que confirmou que houve paralisação da pós-graduação no programa em que leciona.

Produtivismo acadêmico - O docente da UFRJ disse que a pesquisa faz parte da pauta de greve dos professores, que pedem, entre outras coisas, aumento do número e valor das bolsas e autonomia universitária para seu gerenciamento, além de fazerem críticas ao que se coloca como “produtivismo acadêmico”, uma busca por produção quantitativa como norteadora dos critérios de qualidade e eficiência acadêmicos.

“É possível parar. É nesse contexto de escassez de bolsas [de estudo] que se faz necessário parar a pesquisa”, afirmou a docente da Faculdade de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Clarissa Gurgel.


Clarissa, que participa do comitê de greve da UniRio, diz que as propostas de reestruturação de carreira do governo tendem a desvalorizar a pesquisa, separando as universidades em duas “classes”, de forma muito semelhante ao modelo de educação superior dos Estados Unidos: “escolões”, dedicados a formar para o mercado, e “centros de excelência”, para pesquisa de ponta. E faz isso por meio dos critérios de avanço na carreira, que passam a ser atrelados à produção acadêmica, quantificada em números brutos, ao mesmo tempo que propõe a transferência para os docentes da responsabilidade de buscar recursos para os projetos de pesquisa, através do mecanismo da “retribuição por projeto”.

“[O governo] deixa de oferecer recursos públicos para pesquisa e obriga o professor a correr atrás de edital de parceria público-privada para pesquisa. O professor agora é um trabalhador que precisa se desdobrar em mil outras atividades para conseguir recursos, o que nada mais é do que precarizar e flexibilizar o trabalho do professor”, diz a docente. Ela informa que as atividades de pesquisa na UniRio foram paralisadas.

Continuidade - Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), por outro lado, as pesquisas continuaram, o que ocorreu anteriormente em outras greves na instituição. “Tradicionalmente, mesmo em situações de greve, a pesquisa tem continuidade, até porque as bolsas continuam sendo pagas e os pesquisadores continuam tendo obrigação de tocar suas pesquisas e manter seu ritmo de produção na área de pesquisa. Isso tem sido a norma nas situações anteriores de participação e continua sendo a norma na situação atual”, disse o professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, Marcos Palacios. Embora o docente tenha parado as atividades na graduação, as pesquisa do núcleo que lidera seguem seu calendário normal.

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