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Pesquisadores vão trabalhar na reconstituição do crânio de Luzia

Segundo especialistas, foram achados partes da testa e do nariz, parte lateral e fragmento de um fêmur que também pertencia ao fóssil e estava guardado

Cópia do busto de Luzia encontrada na USP: fóssil é uma das mais importantes peças do acervo do museu (Duda Teixeira/VEJA)

Cópia do busto de Luzia encontrada na USP: fóssil é uma das mais importantes peças do acervo do museu (Duda Teixeira/VEJA)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de outubro de 2018 às 10h26.

Rio - Desaparecido desde o incêndio que consumiu o Museu Nacional, o crânio de Luzia - o mais antigo fóssil das Américas, com 12 mil anos - foi localizado em meio aos escombros.

"O crânio foi encontrado fragmentado e vamos trabalhar na reconstituição. Pelo menos 80% dos fragmentos foram identificados e podemos aumentar esse número", disse o diretor do museu, Alexander Kellner. "Luzia está viva", comemorou.

De acordo com os especialistas, foram achados partes da testa e do nariz, uma parte lateral e o fragmento de um fêmur que também pertencia ao fóssil e estava guardado. O fóssil é uma das mais importantes peças do acervo do museu.

"Hoje é um dia feliz, conseguimos recuperar o crânio da Luzia e o dano foi menor do que esperávamos. Os pedaços sofreram alterações, danos, mas estamos otimistas com o achado e tudo o que ele representa. O crânio estava em um local preservado, estratégico. Ficava dentro de uma caixa de metal, dentro de um armário", disse a arqueóloga Claudia Rodrigues, responsável pela equipe de escavação.

O crânio será reconstruído, mas esse trabalho ainda não começou porque depende de repasse de verbas. "Precisamos fazer uma restauração e de uma casa para ela", explicou Kellner. "Estamos lutando no Congresso pelo orçamento. É um trabalho de tempo e de recursos."

O trabalho de arqueologia nos escombros não começou oficialmente. Segundo Kellner, a fase ainda é de escoramento das paredes internas do Palácio São Cristóvão justamente para que não haja desabamento.

Raro

Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, o fóssil é de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil. O crânio de Luzia e a reconstituição de sua face, que revelou traços semelhantes aos de negros africanos e aborígines australianos, estavam em exibição no museu.

A descoberta mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas. Com o estudo do fóssil, o arqueólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo (USP), postulou o modelo dos dois componentes biológicos, segundo o qual o continente americano foi colonizado por duas levas distintas de Homo sapiens, vindas da Ásia.

A primeira onda migratória teria ocorrido há pelo menos 14 mil anos e foi composta de indivíduos parecidos com Luzia, com traços semelhantes aos dos atuais negros africanos e aborígines australianos. Esse grupo, no entanto, não teria deixado descendentes. Uma segunda leva teria chegado há 13 mil anos e seus integrantes apresentavam um tipo físico característico dos asiáticos, dos quais descendem os índios atuais.

O Ministério do Planejamento anunciou nesta semana que vai ceder um terreno de 49,3 mil metros quadrados para abrigar laboratórios e centros de pesquisa do museu. O custo total de recuperação de todo o prédio atingido pelo fogo no dia 2 de setembro é de R$ 300 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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