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Exame toxicológico em caminhoneiros é questionado por especialistas

Pesquisa feita em campo à beira das estradas de SP apontou que 7,8% fazem uso de maconha, cocaína ou anfetaminas

Caminhoneiros: categoria é exposta a jornadas de trabalho excessivas, e essa seria a razão de fundo que justificaria o uso de substâncias ilícitas (Claudio Rossi/EXAME.com/Site Exame)

Caminhoneiros: categoria é exposta a jornadas de trabalho excessivas, e essa seria a razão de fundo que justificaria o uso de substâncias ilícitas (Claudio Rossi/EXAME.com/Site Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de junho de 2019 às 11h40.

Última atualização em 7 de junho de 2019 às 12h09.

São Paulo — Pesquisa feita em campo à beira das estradas de São Paulo, que consistia na análise da urina de caminhoneiros, apontou que 7,8% fazem uso de maconha, cocaína ou anfetaminas.

O estudo foi de 2009 a 2016. O projeto de lei apresentado esta semana pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso propõe o fim da exigência de exame toxicológico para motoristas profissionais no país — alegando valor alto e eficácia questionável.

O exame, na forma atual, também é alvo de críticas da autora do estudo, a farmacêutica e biomédica Vilma Leyton, professora da área de Medicina Legal da Universidade de São Paulo (USP).

Assim como outros especialistas, ela questiona a eficiência de coletar fios de cabelo de motoristas em um laboratório. Seu trabalho mostra que, em oito anos, o uso de substâncias ilícitas pelos caminhoneiros se manteve constante.

O trabalho consistia em coletar amostras de 150 caminhoneiros parados por blitz da Polícia Militar Rodoviária. O teste na urina de caminhoneiros (só 1,5% dos abordados não aceitou participar), analisou maconha, cocaína e anfetaminas.

Em oito anos, a cocaína esteve presente em 3,6% das análises; anfetaminas, em 3,4%; e maconha, em 1,6% de 4.110 análises. O resultado foi publicado em abril na Traffic Injury Prevention Journal, especializado em estudos de trânsito.

Dirceu Rodrigues Alves Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), destaca que, ao discutir mudanças nas regras, o governo federal deveria buscar formas mais eficientes de supervisão, e não deixar de fiscalizá-los.

"O caminhoneiro tem jornada excessiva. Descansa pouco. É sedentário e se alimenta mal. Se torna obeso. E dorme muito mal, é um roncador. Tem obstrução das vias respiratórias e acorda cansado. E volta a fazer jornada excessiva", diz o médico, ao explicar as causas para o uso de substâncias químicas pelos motoristas.

"O exame de cabelo é o terceiro a ser feito. O primeiro é o da saliva e o segundo, de urina. Eles são mais eficientes", diz.

Responsabilidade

A autora do estudo, por sua vez, destaca que as empresas de transporte deveriam ter um papel mais atuante "para criar um ambiente livre de drogas" entre seus empregados e colaboradores.

Procurado, o Sindicato das Transportadoras de São Paulo afirmou apenas que exige exames toxicológicos dos motoristas, conforme a lei.

Trabalho excessivo

O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de São Paulo (Sindicam-SP), Norival Almeida Silva, afirma que a categoria é exposta a jornadas de trabalho excessivas, e essa seria a razão de fundo que justificaria o uso de substâncias ilícitas por pequena parcela da categoria

"Se as jornadas de trabalho fossem cumpridas e a tabela do frete (que estabelece piso para pagamentos) fosse respeitada, o caminhoneiro não precisaria trabalhar tanto e conseguiria repousar", afirma. "Caminhoneiro também precisa comer e pagar as contas", afirmou.

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