Brasil

Pesquisa Quaest mostra que população discorda que economia e emprego vivem bom momento

Em todos os estados pesquisados, maioria dos entrevistados aponta que a economia piorou nos últimos 12 meses

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante entrevista coletiva conjunta com o presidente do Chile, Gabriel Boric, nesta segunda-feira no palácio La Moneda, em Santiago (Chile) (Elvis González/EFE)

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante entrevista coletiva conjunta com o presidente do Chile, Gabriel Boric, nesta segunda-feira no palácio La Moneda, em Santiago (Chile) (Elvis González/EFE)

Publicado em 26 de fevereiro de 2025 às 14h39.

A mais recente pesquisa de aprovação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforça a tendência de queda de popularidade. Dois dados, em particular, desmontam a principal narrativa do governo de que a economia cresce acima da expectativa e o Brasil tem o menor nível de desemprego da história.

Os dados utilizados pelo governo são corretos. Falta combinar com quem sente, na pele, o efeito das políticas públicas. E o descompasso entre o que o governo comunica — ou pensa comunicar — pode custar caro nas pretensões eleitorais de Lula e do PT.

Tome-se como exemplo a narrativa de que o Brasil cresce acima da expectativa. Nos últimos anos, não há questionamento de que o PIB superou as expectativas de analistas: de 1% para 3,2% em 2023 e 1,6% para 3,5% em 2024, segundo as estimativas.

Os entrevistados foram perguntados como enxergam o desempenho econômico dos últimos 12 meses. Em todos os 8 estados, mais de 50% das pessoas disseram que a economia piorou. Em abril do ano passado, primeira pesquisa da série da Quaest, nenhum dos estados tinha um índice superior a 50% com essa visão. As exceções são o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, para os quais não há dados históricos.

Em São Paulo, por exemplo, o nível de pessoas que responderam que a economia piorou cresceu 20 pontos percentuais, de 42% em abril de 2024 para 62% agora. O estado tem 34,4 milhões de eleitores.

Em Minas, que tem 16,5 milhões de eleitores e é o estado-chave para qualquer eleição nacional, o índice subiu 14 pontos percentuais.

E mesmo em tradicionais redutos eleitorais do PT, como Pernambuco e Bahia, a avaliação negativa da economia explodiu: no estado baiano subiu de 30% para 50% desde abril do ano passado. Em Pernambuco, cresceu incríveis 24 pontos percentuais.

A sensação generalizada de piora econômica no país, portanto, fere em cheio a narrativa de que o Brasil cresce acima das expectativas. Até cresce, mas o eleitor não sente.

E o item que mais captura esse sentimento é o preço dos alimentos. Em todos os estados, mais de 90% das pessoas disseram que a comida ficou mais cara no último mês.

"Embora em São Paulo a inflação acumulada de alimentos tenha chegado a 10% em 2024, e em Salvador tenha sido bem menor, 5,84%; nos dois estados, 95% afirmam que os preços de alimentos subiram no último mês", lembrou no X o autor da pesquisa, Felipe Nunes.

Não à toa, o governo faz repetidas tentativas de controlar esses preços. Em uma estratégia confusa, diversos ministros vieram a público e trouxeram informações conflitantes sobre o tema, o que gerou insegurança no mercado, no agro e, por fim, não sinalizou positivamente à população uma mudança.

É natural que o preço de alimentos seja um tema sensível para a população. Estudo do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços da FGV, mostra que os alimentos consomem 22,61% do orçamento das famílias de renda de até 1,5 salário mínimo em janeiro de 2025. Em janeiro de 2018, essa proporção era de 18,44%. Esse grupo, segundo dados de 2023 do IBGE, representa 60,1% da população brasileira — cerca de 129 milhões de pessoas.

Como diria a economista Maria da Conceição Tavares, "ninguém come PIB".

Desemprego em alta, sensação negativa

Outro ponto de destaque da narrativa oficial do governo é que o desemprego está em níveis mínimos históricos. Novamente, o dado do IBGE mostra que em 2024 a taxa ficou em 6,6%, a menor já registrada na série iniciada em 2012.

Hoje, após a divulgação da pesquisa, o Ministério do Trabalho divulgou que o país criou 137 mil postos de trabalho de carteira assinada em janeiro, dado quase três vezes acima da expectativa do mercado financeiro, que espera uma desaceleração da economia e do mercado de trabalho neste ano em meio à alta de juros.

Mas, em cinco dos oito estados pesquisados, mais de 50% das pessoas apontam que está mais difícil conseguir um emprego nos últimos 12 meses. Em Pernambuco e Bahia, 63% e 66% dos entrevistados responderam isso.

No Rio de Janeiro, apenas 21% disseram estar mais fácil, ante 67% que avaliam estar pior encontrar um trabalho.

No Paraná de Ratinho Júnior (PSD), postulante para disputar as eleições presidenciais de 2026, 50% dizem que ficou mais fácil encontrar um emprego — 42% disseram estar mais difícil. É o único estado com um saldo positivo entre quem disse estar mais fácil e mais difícil arranjar um trabalho.

Em Minas Gerais, a sensação é quase parelha: 46% disseram estar mais fácil e 47%, mais difícil. Em Goiás, o resultado é 48% mais difícil e 44% mais fácil. Em ambos os casos, os governadores Romeu Zema (NOVO) e Ronaldo Caiado (União) são postulantes a um lugar na disputa de 2026.

E mesmo para quem tem emprego o salário é baixo. Em 2024, o salário médio de admissão foi de R$ 2.177,96 — aumento real de 2,59% na comparação com 2023, ainda dentro da faixa de 1,5 salário mínimo. Para quem está empregado, a alta dos preços consome a renda e impacta nos ganhos reais do salário mínimo dos últimos anos.

Ou seja, apesar dos dados oficiais mostrarem um resultado favorável ao emprego para a massa trabalhadora, há novamente um descolamento entre o que governo comunica e o que a população percebe.

A busca pela solução

Diante do cenário adverso, o governo adotou — e adotará —medidas para tentar recuperar apoio popular: anunciou a liberação do saque do FGTS para trabalhadores com valores bloqueados, criará um vale-gás e ampliará o crédito consignado para trabalhadores privados.

A medida mais aguardada é a isenção do imposto de renda para os trabalhadores que recebem até R$ 5 mil. Ela precisa ser aprovada pelo Congresso, com uma compensação arrecadatória, e só passará a valer em 2026. Mas o Planalto acredita que a narrativa será forte o suficiente para dar impulso à popularidade.

Hoje, os dados mostram que a narrativa oficial está muito distante da percepção popular.

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