Lula: somente nas mãos de Moro, estão dois processos envolvendo a delação da empreiteira contra o petista (Leonardo Benassatto/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 19h25.
O parecer da perícia indicada pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aponta "práticas adulterosas" sobre documentos de corroboração entregues por delatores da Odebrecht.
O documento, produzido pelo perito Celso Mauro Ribeiro Del Picchia, foi juntado aos autos de incidente de falsidade requerido pelos advogados de Lula contra papéis da colaboração dos executivos da construtora na Operação Lava Jato.
"Dessa forma, a suspeita da seriedade dos documentos e a possibilidade de que poderiam ter sido alterados foram confirmadas pela análise do renomado expert. Logo, os documentos supostamente extraídos do sistema Drousys, trazidos pelo corréu colaborador Marcelo Odebrecht e usados pelo Ministério Público Federal, segundo trabalho pericial ora trazido aos autos, contém elementos suficientes para demonstrar que foram adulterados", sustenta a defesa, ao entregar a perícia.
Somente nas mãos do juiz federal Sérgio Moro, estão dois processos envolvendo a delação da empreiteira contra o petista. Em um deles, Lula responde por dois imóveis que totalizariam R$ 12,5 milhões em supostas propinas.
O petista também é réu na ação penal sobre o Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, cujas reformas realizadas pela Odebrecht e pela OAS são vistas como vantagens indevidas em benefício de Lula pela força-tarefa da Lava Jato.
A defesa questiona documentos da delação que envolvem a ação sobre os supostos R$ 12,5 milhões que totalizam o valor do terreno onde seria sediado o Instituto Lula, segundo delatores, e a respeito do apartamento vizinho ao do ex-presidente em São Bernardo, que teriam sido bancados pela empreiteira, de acordo com a denúncia.
No incidente de falsidade, a defesa e o Ministério Público Federal têm o direito de indicar suas próprias perícias sobre os documentos.
No documento da perícia indicada pela defesa de Lula, o assistente técnico, que é membro emérito da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, apontou o que considerou como indicativos de que os documentos da empreiteira foram manipulados.
No relatório, o perito anexa planilhas aonde diz ter identificado "práticas adulterosas".
A respeito deu ma das planilhas do Drousys, sistema do departamento de propinas da Odebrecht, o perito diz que "infelizmente, ao mesmo tempo que os recursos de computação facilitam a confecção de documentos verdadeiros, também produzem recursos e facilitam, enormemente e ao extremo, diversas possibilidades de montagens e outras fraudes documentoscópicas".
Já em análise sobre anotações, o perito afirma que, em um dos papeis, uma assinatura do delator Paulo Melo foi "enxertada no documento" e que os manuscritos não foram "produzidos por um mesmo e único punho escritor".
A Odebrecht afirma que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. "Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas."