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Pelos filhos, os pais ficam em casa

A trajetória começa a ser a escolha de alguns homens que interrompem ou mudam a carreira para cuidar das crianças

"Fui criado apenas pela minha mãe, não queria o mesmo para as minhas filhas", diz um dos pais que fizeram a escolha. (dolgachov/Thinkstock)

"Fui criado apenas pela minha mãe, não queria o mesmo para as minhas filhas", diz um dos pais que fizeram a escolha. (dolgachov/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de agosto de 2017 às 12h04.

São Paulo - Quando soube que seria pai pela segunda vez, Karlo Caruso, hoje com 32 anos, decidiu que era a hora de deixar de lado o emprego como ator e investir em um negócio próprio dentro de casa para ter mais tempo com as filhas. A trajetória - comum entre as mulheres, apesar de ainda ser muitas vezes imposta - começa a ser a escolha de alguns homens que interrompem ou mudam a carreira para cuidar das crianças.

"Nos primeiros dois anos da minha menina mais velha, eu tinha ensaio de teatro toda noite. Não a coloquei para dormir, não dei banho. Não queria perder tudo isso de novo", conta.

Para muitos amigos, a mudança não parecia natural, mas Caruso diz que fez sentido na rotina da família. "Fui criado apenas pela minha mãe, não queria o mesmo para as minhas filhas."

Fotógrafo profissional desde 2005, o publicitário Carlos Hinke, de 38 anos, já vinha pensando em dar uma guinada na carreira antes mesmo de a mulher engravidar. "Estava cansado da rotina maluca de ter de trabalhar à noite, aos fins de semana", conta. Seu plano B foi montar a loja virtual Machine Cult, especializada em presentes e colecionismo.

Inaugurado em 2013, o negócio já vinha bem quando Clarice nasceu, no ano passado. "Então me desfiz do estúdio e parei de trabalhar com fotografia", diz.

Hinke passa a maior parte do tempo em casa - vai ao escritório da firma de duas a três vezes por semana - e se reveza com a sogra nos cuidados com a pequena. "Poder ficar com a bebê desde pequenininha foi uma excelente escolha", afirma.

Despertar

Para o fotógrafo Arthur Calasans, hoje com 42 anos, o início da mudança apareceu depois da consulta de um mês de seu filho com o pediatra. Ele e a mulher desabafaram com o médico sobre as dificuldades com o primeiro filho e saíram do consultório com uma receita que prescrevia à criança banho no chuveiro com o pai e a mãe e tempo no sling (espécie de rede para carregar o bebê junto ao corpo). "Vivíamos um turbilhão de emoções com o bebê, minha mulher atravessava a depressão pós-parto. Foi depois de seguir a recomendação do médico que a minha paternidade nasceu, um mês após o parto", lembra.

Ao fim da licença-maternidade da mulher, que é psicanalista, Calasans reduziu os trabalhos para cuidar de Jorge, hoje com 4 anos. "Ela tem um trabalho mais organizado, com horários fixos. Não sentamos e combinamos que eu ficaria em casa, mas aconteceu e funcionou naturalmente."

Todos os dias eles tomam café da manhã em família. A mulher segue para o trabalho, e Calasans e Jorge ficam em casa brincando e fazendo as tarefas domésticas até que o menino segue para a escola no período da tarde. "Ainda vivemos em uma sociedade em que soa anormal o homem ficar em casa. Para nós, a ideia não era inverter os papéis. Só entendemos que é papel dos dois o convívio e as responsabilidades", diz.

"É uma novidade este papel do homem que cuida mais dos filhos? Pois eu prefiro pensar que até pouco tempo atrás a própria sociedade nos privava disso... E é muito prazeroso cuidar dos filhos", afirma o psicólogo Ailton Amélio da Silva, professor da Universidade de São Paulo (USP), com a experiência de quem viveu exatamente essa situação. "Quando minha filha, hoje com 32 anos, nasceu, eu estava prestes a defender meu doutorado e vi a possibilidade de adiar por um ano para poder me dedicar a ela", conta.

"Isto é muito bem-vindo e, certamente, faz bem para as crianças", completa o psicólogo. Ele comenta que, além da "vantagem" de poderem curtir um pai mais presente, elas ainda crescem mais conscientes de uma justa divisão de trabalho entre os gêneros.

Nova vida

Na casa do jornalista Fabio Saraiva, de 41 anos, a mudança veio entre o Joaquim, hoje prestes a completar 3 anos, e a Maria Teresa, que nasceu em junho. "Durante dois anos, até o fim de 2016, quase não conhecia meu filho", diz Saraiva, que trabalhou 16 anos em cinco redações de jornais.

O estalo chegou quase que em forma de resolução de ano-novo: o jornalista decidiu que era hora de se reinventar, para ficar mais perto de Joaquim. Desenhou um plano de negócio, garimpou peças que podiam funcionar como elementos de decoração e colecionismo e confeccionou ele próprio alguns itens. O estoque já se amontoa em casa - a loja deve ser lançada em breve. "Claro que a minha vida não é um post de Facebook", alerta. "Mudamos tudo, apertamos os cintos. Mas tudo compensa quando vejo que sou um pai mais presente." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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