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Peguei carne para alimentar a família, diz homem torturado em mercado

Vítima também afirma que ficou com sequelas físicas e psicológicas após seguranças da rede Ricoy o torturarem; caso aconteceu em 2018

Supermercado Ricoy, na zona sul de SP: caso aconteceu em março de 2018, mas só veio à tona em setembro deste ano, depois que os vídeos foram divulgados pelos próprios agressores (Google Street View/Reprodução)

Supermercado Ricoy, na zona sul de SP: caso aconteceu em março de 2018, mas só veio à tona em setembro deste ano, depois que os vídeos foram divulgados pelos próprios agressores (Google Street View/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 14h35.

Última atualização em 30 de dezembro de 2019 às 14h36.

São Paulo — O homem torturado por seguranças de um supermercado na Zona Sul de São Paulo disse que furtou um quilo de carne para alimentar a família. Pai de quatro filhos, ele contou ao G1 que pensou em se matar ao ver as imagens da tortura na televisão.

O caso aconteceu em março de 2018, mas só veio à tona em setembro deste ano, depois que os vídeos foram divulgados pelos próprios agressores. Nas imagens, o homem de 38 anos aparece amarrado e amordaçado, enquanto levava choques e vassouradas.

"Aquele dia eu saí de casa desesperado. Aí, fui tentar pegar uma carne, alimentar minha família. Aí foi que aconteceu lá dentro daquele hipermercado", lembra ele, ao comentar pela primeira vez sobre o ocorrido. "Estava desempregado, estava passando muita dificuldade. Fui despejado da casa onde eu morava de aluguel."

Segundo ele, a tortura durou cerca de seis horas. Os agressores deram choques elétricos com um taser e golpes com um cabo de vassoura.

"Aquilo lá que eles têm na gravação deles é pouco. Ninguém sabe o que passei lá. Falaram que iriam me matar", conta. "Entrei lá era meio dia e meia, saí de lá já estava escuro. Saí desnorteado."

Segundo ele, a tortura deixou sequelas físicas e psicológicas. Ele diz que passou a mancar e ficou com cicatrizes e pesadelos frequentes:

"Não estou conseguindo dormir."

O homem disse reconhecer que cometeu um erro, mas acha que a tortura foi mais grave que sua tentativa de furto. Ele pede punição aos cinco empregados identificados pela tortura.

"Queria me matar (ao ver o vídeo). O deboche. Aí todo mundo me viu. Não consegui arrumar emprego, não consigo nada", afirma o homem torturado pelos funcionários.

Dois agressores estão presos preventivamente e outros três respondem em liberdade. Todos serão julgados por tortura. A vítima não responderá por furto.

"Quero retomar minha vida de novo, ter uma oportunidade, esquecer o que passou. Todo mundo erra. Só quero arrumar um emprego e batalhar do lado dos meus filhos e da minha esposa", afirma.

Na entrevista, o homem de 38 anos conta que foi abordado por funcionários e seguranças do supermercado Extra logo depois de furtar o quilo de carne.

"Aí foi quando os seguranças me pegaram. Me levaram para uma sala, e foi na hora que eles começaram a me torturar", lembra.

Segundo o G1, o advogado da vítima deve entrar com uma ação judicial na esfera cível pedindo indenização por danos morais e materiais contra o supermercado e a G8, empresa para a qual os seguranças enviados ao Extra prestavam serviço.

O Extra informou, por sua assessoria de imprensa, que está à disposição para conversar com o advogado da vítima. Já a empresa que contratou os seguranças disse que "os fatos estão sendo apurados" e que uma "eventual discussão quanto à indenização ficará à cargo da Justiça".

Segundo o G1, o homem já tinha sido pego por empregados porque estava furtando em ocasiões anteriores, entre 2009 e 2015, no próprio Extra, e também no supermercado Carrefour.

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