PF: o representante de uma cooperativa agrícola chega a afirmar ainda que o parlamentar teria "rabo preso" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de março de 2017 às 16h45.
Última atualização em 24 de março de 2017 às 12h54.
São Paulo - Eleito por unanimidade nesta quinta-feira, 23, presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, o deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) tem seu nome citado em grampos da Operação Carne Fraca como tendo recebido "muito dinheiro" do fiscal apontado como líder do esquema criminoso no Ministério da Agricultura e preso pela PF, Daniel Gonçalves Filho.
Na conversa, o representante de uma cooperativa agrícola chega a afirmar ainda que o parlamentar teria "rabo preso".
O nome de Souza surgiu em um diálogo de 11 de abril de 2016 entre o ex-superintendente regional do Paraná e que estava lotado no Serviço de Vigilância Agropecuária no Porto de Paranaguá (PR) até a deflagração da operação, Gil Bueno de Magalhães, e um interlocutor identificado como Francisco e que representa a Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR).
Em um determinado momento da conversa, Francisco pergunta a Gil sobre o deputado:
"Francisco: Gil, aquele, aquele Sérgio Souza, pelo que me falaram, ele tá, ele tá a favor do PT nessa história do impeachment, impeachment?
Gil: Hã han. Tá ele recebe, ele recebeu muito dinheiro do suspenso aí (em referência ao fiscal Daniel Filho, que na época havia sido suspenso devido a um processo administrativo no Ministério da Agricultura)
Francisco: ah, ele tá com o rabo preso
Gil: É (ininteligível) com ele é, entende?
Francisco: Humm
Gil: Então eu não sei o que ele vai
Francisco: Tá louco, quem escapa hoje em dia não?
Gil: É, é complicado, tá?
Francisco: É"
O diálogo ocorreu na véspera da votação na Câmara sobre a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Na ocasião, o governo tentava conseguir os votos do PMDB, que foi eleito na chapa de Dilma e seu vice Michel Temer (PMDB) em 2014, mas acabou abandonando o governo na reta final do processo de afastamento da petista.
No dia 17 de abril daquele ano, a Câmara aprovou, por unanimidade, a continuidade do processo de impeachment, que seguiu para o Senado.
Apesar das menções aos parlamentares, a PF não identificou suspeitas de crimes envolvendo os políticos com foro privilegiado.
Desde novembro, a Procuradoria da República no Paraná compartilhou com o procurador-geral da República Rodrigo Janot os resultados dos grampos.
Não é a primeira vez que o nome do deputado, que agora vai presidir a comissão responsável por discutir a política agrícola do País, é citado como relacionado ao fiscal preso na Operação Carne Fraca.
Na terça-feira, 21, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) afirmou da tribuna do Senado que foi pressionada no ano passado por Sérgio Souza e Serraglio (Osmar Serraglio) para manter Daniel Gonçalves no cargo. Até o impeachment, a senadora era ministra da Agricultura no governo Dilma.
A versão vai de encontro aos diálogos interceptados pela PF na Carne Fraga. Em um deles, por exemplo, a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Rocio afirma ao funcionário da Seara Flávio Cassou que Souza havia prometido "segurar, segurar, segurar", Daniel no cargo.
O diálogo ocorreu em 12 de abril de 2016, quando Flávio informou Maria sobre o afastamento de Daniel na época devido a um processo administrativo no ministério.
"Flavio: Isso, é que agora ontem suspenderam e hoje exoneraram
Maria: Tá brincando
Flávio: Foi ele, foi Tocantins, foi São Paulo. PMDB FOI TUDO. Dai eu queria saber com o deputado pra ver se precisa dar um toque, dar uma mexida, mexer na empresa, mas ele não me atende o desgraçado
Maria: Tá brincando".
Deflagrada na sexta-feira, 17, a Carne Fraca levou ao afastamento de 33 servidores da Agricultura após identificar que haveria um esquema de corrupção nas regionais do Ministério da Agricultura nos Estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás.
Na lista de irregularidades identificadas pela PF estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção para comercialização de certificados sanitários e aproveitamento de carne estragada para produção de gêneros alimentícios.
Os pagamentos indevidos teriam o objetivo de atender aos interesses de empresas fiscalizadas para evitar a efetiva e adequada fiscalização das atividades, segundo a investigação.
Ronaldo Troncha, que trabalhou com o peemedebista entre abril de 2015 e outubro de 2016, também aparece na investigação da Carne Fraca e teria proximidade com Daniel Gonçalves Filho. Troncha teria recebido duas transferências de R$ 10 mil entre 2009 e 2011. O fiscal agropecuário nega que tenha cometido qualquer irregularidade.
Atualmente, Daniel Filho, Maria do Rócio e Gil, que aparecem nos grampos, estão presos. A reportagem entrou em contato e mostrou os grampos para a assessoria de Souza na quarta-feira, 22, mas o parlamentar ainda não se posicionou oficialmente sobre o caso.
A reportagem também procurou a Castrolanda desde quarta-feira, 22, mas ninguém atendeu no telefone registrado no site e a assessoria de imprensa não retornou ao e-mail da reportagem.
O PMDB não autoriza ninguém a falar em nome do partido e está à disposição da Justiça para qualquer esclarecimento.
"A JBS não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará todas as medidas cabíveis."