Brasil

Pedido de prisão é o mais arbitrário do século, diz defesa de Lula

Nesta quinta-feira, o juiz Sérgio Moro decretou a prisão do petista, após o STF negar ação de habeas corpus no dia anterior

Lula: o ex-presidente está agora em São Bernardo (Lula/Facebook/Divulgação)

Lula: o ex-presidente está agora em São Bernardo (Lula/Facebook/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de abril de 2018 às 09h02.

Última atualização em 6 de abril de 2018 às 10h49.

São Paulo e Brasília - O criminalista José Roberto Batochio, defensor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quinta-feira, 5, que o pedido de prisão do petista decretado pelo juiz Sérgio Moro representa um "açodamento" e que é "a mais rematada expressão do arbítrio no século 21".

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, outro defensor do ex-presidente, disse que o mandado de prisão contraria decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

Segundo Zanin, o TRF-4, em julgamento de 24 de janeiro, "condicionou a providência (ordem de prisão) - incompatível com a garantia da presunção da inocência - ao exaurimento dos recursos possíveis de serem apresentados para aquele tribunal, o que ainda não ocorreu".

A defesa tentou evitar a prisão de Lula com um habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal, mas o pedido foi negado pelos ministros, por 6 votos a 5 na quarta-feira, 4.

Os advogados queriam que a pena só fosse cumprida após o trânsito em julgado, ou seja, após encerradas todas as possibilidades de recursos nos tribunais superiores, o que foi rejeitado.

Era possível ainda apresentar um último recurso ao TRF-4, que não tem, porém, o poder de reverter a condenação. O prazo de 12 dias para a apresentação desse recurso terminará na próxima terça-feira. No despacho, Moro criticou o uso de recursos judiciais para adiar o cumprimento de pena.

O ex-presidente foi orientado por aliados a não se entregar à Polícia Federal em Curitiba, como determinou o magistrado, e aguardar em São Bernardo do Campo, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cercado de apoiadores, o cumprimento da ordem de prisão.

A ideia não é resistir à prisão, mas tentar garantir uma imagem positiva, do ponto de vista político, do momento em que Lula será detido. Segundo um petista, a questão é "semiótica". Lula e PT querem adotar o discurso de que ele é um preso político.

Até o início da madrugada desta sexta-feira, 6, no entanto, o petista continuava reunido com aliados e advogados no sindicato e a decisão se Lula se entregaria ou aguardaria a chegada da PF ainda não havia sido tomada.

Um segundo grupo, minoritário, defendia a ida do ex-presidente a Curitiba para não passar a impressão de que estaria afrontando a Justiça.

Questionado sobre isso pelo jornalista Kennedy Alencar, da rádio CBN, antes da decisão de Moro, Lula disse que consultaria seus advogados.

Reunião

O ex-presidente foi surpreendido com as decisões do TRF-4 e de Moro. Pela manhã, cerca de 20 pessoas se reuniram no Instituto Lula, em São Paulo, para analisar a situação depois da derrota no STF.

Segundo um participante da reunião, apenas três pessoas alertaram para a possibilidade de Moro ordenar a prisão antes do dia 10. Os outros disseram que não havia risco antes disso.

No início da tarde, parte deste grupo levou a Lula o extrato das análises, entre elas a ausência de risco de antecipação da prisão. A partir disso, o ex-presidente e o PT definiram um calendário de ação política que previa a primeira declaração pública do petista depois de o STF negar o habeas corpus apenas no início da noite desta sexta, além de atos na segunda-feira.

A ideia da direção do PT era convidar os demais pré-candidatos de esquerda, artistas, intelectuais e fazer um ato em defesa de Lula e da democracia.

Os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins se reuniram com o ex-presidente no Instituo Lula por cerca de duas horas. Em seguida, falaram com a imprensa, ainda sem informação do despacho de Moro. Após a entrevista, os dois saíram do prédio, mas retornaram minutos depois com a informação sobre a decisão do juiz.

Na entrevista, Zanin afirmou que a defesa tinha instrumentos para suspender qualquer medida adotada com base na decisão do TRF-4, evitando medida de restrição de direitos do petista. Ele citou a possibilidade de Recurso Especial no Superior Tribunal de Justiça e Recurso Extraordinário no Supremo.

Recurso

O advogado de São Bernardo Adinaldo Martins, que não integra a defesa do ex-presidente, entrou nesta quinta-feira com um habeas corpus no STF para garantir que Lula permaneça em liberdade até o plenário da Suprema Corte analisar duas ações diretas de constitucionalidade (ADCs) de relatoria do ministro Marco Aurélio Mello.

As ações tratam de forma ampla e abrangente da questão da possibilidade de execução provisória de pena, como a prisão, após condenação em segunda instância.

A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, resiste a levar as ações para julgamento pelo plenário, que ainda não analisou o mérito.

O habeas corpus foi sorteado eletronicamente para o ministro Marco Aurélio Mello, que vai analisar o pedido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Luiz Inácio Lula da SilvaPrisõesPT – Partido dos TrabalhadoresSergio MoroSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

'Só vou declarar apoio nos 48 do segundo tempo', diz Bolsonaro sobre eleições presidenciais de 2026

Nunes irá fazer uma queixa-crime contra a 99 por serviço de mototáxi em SP

Tarcísio cria conselho de mudanças climáticas e defende SP à frente do tema após usar boné de Trump

Dino cobra governo e estados sobre andamento de investigações e sanções por incêndios criminosos