Delfim defende que seria necessário algo mais concreto: "Isto aqui não é uma pastelaria. Você precisa de uma prova de que houve um desvio de função" (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2015 às 09h52.
Sorocaba - Nos últimos dias, o economista Delfim Netto escreveu artigos mais amenos sobre os rumos do governo.
Na avaliação dele, a presidente Dilma Rousseff fizera uma espécie de mea-culpa e ele passou a vislumbrar um cenário mais fértil para uma recuperação tanto política quanto econômica.
"Acho que ela fez no dia 2 o seu melhor discurso. Está tentando reassumir. Foi uma espécie de mea-culpa, não muito claro, mas reconhecendo - está certo - que precisa dar suporte para o ajuste fiscal, fazendo uma mudança no ministério", diz.
O seu estado de ânimo, porém, mudou na noite de terça-feira, quando soube que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia reaberto a ação que pede a impugnação dos mandatos de Dilma e do vice Michel Temer por suposto abuso de poder político e econômico na eleição.
"O simples fato de o TSE ter aceito a denúncia - que não é prova de que algo aconteceu - me induz à conclusão de que eles têm indicação de que houve realmente alguma violação no processo eleitoral", diz Delfim.
Numa comparação, ele considera a discussão no Tribunal de Contas da União (TCU) um "truque".
"Não adianta querer discutir se houve ou não pedalada. Claro que houve. E o mais importante: o governo reconheceu que houve. Na minha opinião, isto não é uma causa suficiente para produzir um impeachment", diz.
Delfim defende que seria necessário algo mais concreto para invalidar uma eleição presidencial: "Isto aqui não é uma pastelaria. Você precisa de uma prova material, robusta, de que houve um desvio de função."
O processo no TSE "cria um fato novo" nesta direção, na avaliação dele, porque o crivo de análise, até pela natureza da instituição, será mais severo. "No TSE, o processo só terminará se houver uma prova evidente, uma prova material, de que houve abuso de poder econômico."
'Inteireza institucional'
Na avaliação dele, se ficar comprovada alguma irregularidade, o Brasil sairá mais fortalecido do processo, ainda que seja desgastante.
"Se houver abuso de poder econômico, revogar uma eleição é uma demonstração de inteireza institucional inacreditável. Ninguém fará nenhuma objeção, de nenhum natureza", avalia.
Também pesa na avaliação de Delfim o fato de o arranjo político com o PMDB não ter surtido o efeito esperado: "Quando você olha tem a impressão de que aplicaram 171 no governo. Um grupo do Congresso vendeu para Dilma o que não tinha. Isso não é nem um passo adiante. É uma grande confusão", diz.