Dora Cramer, de Veja, media debate entre a deputada Tabata Amaral, Claudia Costin (CEIPE/FGV) e Priscila Cruz (Todos Pela Educação) (Flávio Santana / Biofoto/Exame)
Ligia Tuon
Publicado em 15 de abril de 2019 às 20h54.
Última atualização em 16 de abril de 2019 às 10h58.
São Paulo - Polarização política, discussões ultrapassadas, pautas com pouco efeito prático e muita fumaça ideológica. Essas características foram usadas para descrever o setor de educação nos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro, em bate-papo durante o Fórum VEJA EXAME 100 dias de governo, nesta segunda-feira, 15.
O debate mediado pela colunista Dora Kramer, da revista Veja, teve a participação da ativista e deputada federal, Tabata Amaral, da diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE) da FGV, Claudia Costin, e da presidente-executiva e co-fundadora do Todos Pela Educação, e Priscila Cruz.
O Ministério da Educação teve um começo de ano traumático com a passagem de Ricardo Vélez Rodrigues pela liderança da pasta. Após três meses de polêmicas, revezes e mais de 15 demissões, Abraham Weintraub assumiu na última semana o que seu antecessor chamou de "abacaxi" com o objetivo de "acalmar os ânimos" no MEC.
O novo ministro, apesar de ter declarado que "agora vamos começar a trabalhar", ainda não deixou claro qual é seu plano para resolver o atraso no setor.
Segundo Priscila Cruz, a equipe formada pelo ministro precisa reunir, ao menos, três competências básicas: a de formulação (também chamada de competência técnica); a de gestão (saber organizar o ministério e fazer com que cada projeto que começa nos gabinetes cheguem às salas de aula); e a de articulação (com Congresso, secretários municipais, secretarias de educação etc).
"O que verificamos na formação atual é uma competência concentrada na gestão, e que ainda precisa se provar. As outras ainda não estão presentes. É o que dá para dizer com uma semana da nova equipe", analisou.
Claudia Costin analisou os primeiros discursos de Weintraub: "A discussão sobre o ensino domiciliar no pais deveria ser a última prioridade. Essa é a nossa emergência? Não faz sentido", criticou.
As questões ideológicas, por serem mais polêmicas, acabam permeando demandas e soluções rápidas e de pouco efeito para a sociedade. É o que Priscila Cruz chama de cartas ideológicas dos partidos. "É uma forma de você colocar o bode na sala e, depois, tirar o bode e dizer que está tudo solucionado", disse. "Não é educação domiciliar ou cartinha para as escolas que vai resolver o problema que temos com educação. O Brasil precisa melhorar no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes)".
A prova do Pisa, feita em 70 países, mostra o Brasil entre os dez últimos colocados. Segundo a especialista, se o Brasil cresce 100 pontos no Pisa, acrescenta dois pontos ao PIB todos os anos. "Se a gente só encostar no México, que também vai mal nessa área, a renda do trabalhador aumenta em 23%".
A crescente polarização política, para Tabata, tem um custo alto para a educação e ameaça a democracia brasileira. "Essa coisa de esquerda e direita faz muito mal para o Brasil não só porque ameaça a democracia, mas porque rouba tempo precioso de discussões que realmente importam", disse a deputada federal.
Para exemplificar, ela conta que, recentemente, teve de passar seis horas num debate ideológico no Congresso sobre um tratado de intercâmbio acadêmico em uma ilha do Caribe. "Eu não consigo pensar numa pauta mais irrelevante para o momento do que essa", disse.
Aos 25 anos e em seu primeiro mandato pelo PDT de São Paulo, Tabata ganhou projeção ao cobrar Vélez publicamente no Congresso pelos seus planos para a área.
O fator mais importante para garantir que todos aprendam é a figura do professor, defendeu Claudia Costin. Ao melhorar a atratividade da carreira de professor, segundo ela, o país vai avançar na educação, e rápido.
No Brasil, disse ela, 20% dos candidatos ao curso de professor não teriam se formado no ensino médio. "Estamos atraindo o público errado e formando errado", disse.
Costin usou como exemplo positivo prática usada no Chile, onde a nota de corte para a profissão é muito mais alta do que as outras. "Tornaram mais difícil virar professor lá. Com isso, também veio mais reconhecimento profissional para a área", explicou.
As universidades estão totalmente divorciadas da prática em sala de aula na formação desses profissionais, segundo a especialista. "É uma abordagem excessivamente teórica. É como se formássemos engenheiros só com a teoria", explicou Cláudia.