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Partido Novo tenta evitar rótulo de oposição ao governo

Mesmo com divergências de opiniões na legenda, bancada do Novo na Câmara não vê crime de responsabilidade por parte do presidente

Partido Novo: ruptura entre Moro e Bolsonaro trouxe atritos entre deputados do partido e o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL) (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Partido Novo: ruptura entre Moro e Bolsonaro trouxe atritos entre deputados do partido e o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL) (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de maio de 2020 às 09h37.

Última atualização em 4 de maio de 2020 às 11h37.

No momento que parte do universo político-partidário do País passou a defender abertamente o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o partido Novo afinou o discurso com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e optou por poupar o Palácio do Planalto. Os dirigentes da sigla e a bancada rejeitam a ideia de apoiar um eventual processo de impedimento e até mesmo de fazer oposição ao presidente da República.

Mas há divergências. Enquanto Zema defende Bolsonaro - publicamente e nos bastidores do grupo de governadores -, João Amoedo, fundador e ex-presidente da legenda, adotou um tom duro nas redes sociais: "Cada vez mais o bolsonarismo lembra o petismo". Segundo ele, "renúncia ou impeachment" são as únicas saídas.

"Não foi para isso que criamos o partido. O Novo não faz oposição a uma pessoa ou projeto. Somos independentes", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o presidente da sigla, Eduardo Ribeiro, que sucedeu Amoedo.

Eleitor declarado de Bolsonaro no 2° turno em 2018, o dirigente afirma que não se arrependeu da opção e que seu voto levou em conta o cálculo de "risco institucional". "Eram duas opções: ter de volta o PT ou o Bolsonaro. A volta do PT seria um maior risco institucional", afirmou Ribeiro.

A bancada do Novo na Câmara - apesar de defender que se investigue as acusações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, de que Bolsonaro tentou interferir no trabalho da Polícia Federal - acredita que não há evidência de que o mandatário cometeu crime de responsabilidade passível de impeachment.

A dissonância de opiniões, na visão do professor Christian Lohbauer - cientista político liberal que foi candidato a vice na chapa presidencial encabeçada por Amoedo em 2018 - se deve ao grande crescimento da agremiação em anos recentes, sem que haja uma estrutura de tomada de decisão e posicionamento que gere unicidade nos discursos.

Ele identifica, além da direção nacional, três espécies de eixos de pensamento: a opinião de Amoedo - que é confundida com a visão da legenda por parte do eleitorado -, a visão da bancada de deputados nacionais - que, para Lohbauer, é o melhor termômetro da visão do partido - e a visão do governo de Minas.

"Somos um partido independente e somos o mais coerente, que vota sempre 8 a 0 nas pautas de transformação", afirmou, sobre as votações unânimes da bancada. "Temos uma posição ideológica muito clara: não somos nem contra e nem a favor de governo, a gente é a favor das reformas", completou.

Sobre as posições de Amoedo, o vice da chapa defende que ninguém pode impedi-lo de publicar o que pensa. "Mas as pessoas associam à opinião do partido, que não existe", acrescentou. Em relação a Zema, Lohbauer afirma que é mais importante para o governador de Minas ter uma boa relação com o governo federal, de quem o Estado depende financeiramente.

O deputado Paulo Ganime, líder do Novo na Câmara, concorda. "O Amoedo, como não possui mais a responsabilidade de comandar um partido, tem mais a liberdade de dar palpites", afirmou o parlamentar, para quem Zema está em uma posição diferente.

"Ele está no cargo para cumprir um papel executivo, que é entregar um Estado melhor do que recebeu. Ele só deve se manifestar em temas que impactam no trabalho dele", defendeu. Tanto Ganime quando Lohbauer consideram que a união de governadores em torno do combate à pandemia e contra posturas de Bolsonaro - movimento rechaçado por Zema - foi um movimento político e contrário aos interesses de Minas.

Ganime ainda reiterou ao jornal O Estado de S. Paulo o compromisso da bancada do Novo com a pauta da responsabilidade fiscal, mesmo em tempos de pandemia - uma ideia cara ao ministro da Economia, Paulo Guedes. "Votamos a favor de auxílios emergenciais e gastos previstos por um tempo limitado: três meses, quatro meses ou até o final do ano", explicou. "O saldo negativo pode ficar para os próximos anos, mas não estamos ajudando a criar nenhum efeito fiscal que não seja endividamento para os anos futuros", disse. A bancada, segundo ele, é contrária a aprovar novos gastos permanentes.

Rusgas

Apesar do apoio da bancada do Novo a muitas das pautas centrais do governo Bolsonaro, como a reforma da Previdência, aprovada antes da pandemia, a ruptura entre Moro e Bolsonaro trouxe atritos entre deputados da agremiação e o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL).

"Se eu estivesse na posição dele, eu ia querer mais é que se investigue (as acusações do Moro)", afirmou o deputado Marcel Van Hattem ao jornal O Estado de S. Paulo, depois de ser criticado pelo bolsonarista nas redes sociais após cobrar investigações. "(O governo) Está ficando confortável com o fato de que Centrão está sendo atraído para a base, com acertos que Novo nunca pediu e nem aceitaria. Então, talvez o apoio por convicção seja agora mais desprezível", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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