Eduardo Cunha durante CPI da Petrobras: Cunha estaria na lista de políticos a serem investigados (Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2015 às 20h05.
Brasília - O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), compareceu de surpresa à CPI da Petrobras nesta quinta-feira e, em meio a um clima tenso com a criação de sub-relatorias da comissão, disse estar disponível para esclarecer denúncias sobre investigações da Operação Lava Jato.
Cunha, que estaria na lista de políticos a serem investigados entregue ao Supremo Tribunal Federal por suposto envolvimento em esquema de irregularidade na Petrobras, chegou à comissão logo após discussão e troca de farpas entre deputados favoráveis e contrários à criação de quatro sub-relatorias à revelia de partidos como o PT.
“Eu acho que quem não deve não teme. Não sei se é ou não é verdade aquilo que se fala pela imprensa que houve solicitação de investigação. Mas como eu sempre disse, ninguém é imune a investigação e eu estou pronto para esclarecer, absolutamente tranquilo, qualquer fato ou qualquer suposição de fato que porventura possa aparecer”, disse Cunha a jornalistas após colocar-se à disposição da CPI para ser inclusive inquirido.
O presidente da Câmara aproveitou para negar novamente que tenha sido avisado que seu nome estaria na lista de pedidos de abertura de inquérito apresentada na noite de terça-feira ao STF pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
“Não tem veracidade a informação de que eu teria sido avisado por qualquer emissário”, disse a integrantes da comissão.
A confusão na CPI antes da chegada de Cunha teve início após decisão do presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), de criar quatro sub-relatorias da comissão antes mesmo de o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), ler seu plano de trabalho, o que pode enfraquecer o poder do relator.
Houve bate-boca e parlamentares contrários à decisão argumentaram que caberia a Luiz Sérgio criar sub-relatorias, e não ao presidente da comissão. Mesmo após reclamações intensas de deputados, dedos em riste, e muitos gritos, Motta indicou os nomes dos parlamentares que vão ocupar as quatro sub-relatorias.
"Quem manda aqui é o presidente. Não aceito desrespeito. Cabelo branco não é sinônimo de respeito”, reagiu Motta, que tem 25 anos, aos gritos. “Não serei fantoche para me submeter a pressão aqui. Não tenho medo de grito. Da terra onde venho, homem não ouve grito”, emendou.
Ao dizer que não iria voltar atrás na criação das sub-relatorias, o presidente da CPI argumentou que a escolha dos sub-relatores – nomes do PSDB, PR, PTB e PSC – obedeceu ao critério da proporcionalidade dos blocos partidários.
Até mesmo o presidente da Câmara defendeu a decisão de Motta, dizendo que tem “amparo regimental” e que ele tem sido auxiliado pela Secretaria-Geral da Mesa.
“Eu não acho que tira força absolutamente de nada. A CPI que teve, por exemplo ... dos Correios, do chamado mensalão, teve cinco sub-relatores e não tirou a força de ninguém”, argumentou Cunha.
Luiz Sérgio, no entanto, disse ter sido pego de surpresa com a decisão do presidente da comissão de criar sub-relatorias.
“Quero manifestar minha contrariedade”, disse, durante a sessão, acrescentando depois, ao falar com jornalistas, que “bolo que muita gente mexe acaba solado”.
Após a confusão, a CPI aprovou o plano de trabalho apresentado pelo relator, que prevê o depoimento da diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Magda Chambriard, do doleiro Alberto Yousseff, além de ex-diretores e dos ex-presidentes da Petrobras Maria das Graças Foster e José Sérgio Gabrielli.
O primeiro a ser ouvido pela comissão deve ser o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, mas a oitiva prevista para a manhã da próxima terça-feira ainda depende de autorização da Justiça, explicou Motta, uma vez que Barusco encontra-se em prisão domiciliar.
Apreensão com lista de Janot
A divulgação da lista de políticos envolvidos nas investigações gera expectativa e alimenta o clima de tensão no Congresso. Os nomes dos políticos a serem investigados podem ser conhecidos na sexta-feira, quando se espera que o ministro Teori Zavascki, relator das ações da operação Lava Jato, retire o sigilo sobre a lista de 54 pessoas e divulgue a íntegra dos pedidos de Janot, segundo disse à Reuters uma fonte do Supremo.
Atento à pressão política que está por vir com a divulgação dos nomes, Janot enviou carta a todos os membros do Ministério Público na quarta-feira argumentando que fez "uma opção clara e firme pela técnica jurídica" para pedir as investigações.
“Examinei cuidadosamente todas as particularidades que envolvem este caso e estabeleci um critério técnico e objetivo para adotar as medidas necessárias à cabal apuração dos fatos", escreveu.
O procurado-geral disse ainda não acreditar que esses dias de "turbulência política fomentarão investidas que busquem diminuir o Ministério Público brasileiro". "Mas devemos estar unidos e fortes”, disse.