Ao receberem a notícia da renúncia, egípcios agitaram bandeiras para comemorar (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2011 às 15h56.
São Paulo - Ao falar ao telefone com a reportagem de EXAME.com na histórica tarde desta sexta-feira (11), por diversas vezes a brasileira Susy da Silva, de 43 anos, teve que erguer a voz. Isto porque a rua em que ela mora, em um bairro central da cidade do Cairo, foi tomada por carros que buzinavam sem parar. "Estamos todos comemorando a saída de Mubarak. Parece que ganhamos a Copa do Mundo", disse.
Olhando pela janela de casa, Susy conseguia ver diversas famílias egípcias saindo às ruas agitando bandeiras do país. "Todos estão numa alegria muito grande. Mesmo que as forças armadas tomem o controle do país, ter derrubado o presidente já é motivo para que o povo festeje."
A brasileira é casada com um egípcio que trabalha no setor de petróleo, e mora no Cairo há quatro anos. Nesse tempo de convivência com a cultura do país, Susy diz que nunca havia presenciado um momento em que a população lutou por algo com tamanha vontade.
"A situação no país é precária. Existe um abismo imenso entre ricos e pobres, e eu sempre me perguntava como os egípcios não faziam nada para mudar a situação. A revolução que o país fez surpreendeu a todos nós. Agora esperamos o melhor para o futuro", afirmou. Ela disse ainda que estava de saída para a casa de sua sogra, egípcia, onde festejariam a queda do regime.
Vidas de volta
Durante os 19 dias de manifestações pela queda do regime de Mubarak, a brasileira Cristiane de Freitas, de 43 anos, mal saiu de sua casa, também no Cairo. "Passamos momentos difíceis aqui. Depois que os protestos começaram, notamos que começou a haver uma hostilidade dos egípcios com os estrangeiros. Uma amiga minha, também do Brasil, foi xingada na fila da padaria. Vivo no Egito há três anos e meio e nunca tinha visto isso acontecer".
Com medo da hostilidade, Cristiane decidiu que não sairia de casa até que a situação se acalmasse. Na maior parte do tempo teve a companhia do marido, o egípcio Mohamed Negm, funcionário de uma operadora de turismo. "A maioria dos turistas que havia comprado pacotes da empresa do meu marido cancelou a viagem. Ele ficou sem trabalho nesse tempo", lembrou a brasileira.
Agora que o regime do presidente Mubarak caiu, Cristiane e Mohamed comemoram, apesar das incertezas. "Não sabemos o que vai acontecer no país, mas já estamos felizes. Tudo o que queremos agora é nossas vidas de volta. Tanto os egípcios quanto nós, brasileiros que vivemos aqui."