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Paradas LGBT do Rio lutam contra falta de dinheiro em 2017

A 22ª Parada do Orgulho LGBT de Copacabana está marcada para 15 de outubro, mas os recursos financeiros ainda não estão em caixa

Parada LGBT no Rio: Com ou sem dinheiro, os organizadores prometem que o protesto vai ocorrer (AFP/AFP)

Parada LGBT no Rio: Com ou sem dinheiro, os organizadores prometem que o protesto vai ocorrer (AFP/AFP)

AB

Agência Brasil

Publicado em 29 de julho de 2017 às 16h58.

A 22ª Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) de Copacabana, na zona sul do Rio, está marcada para 15 de outubro, mas os recursos financeiros para viabilizar trios elétricos e atrações artísticas ainda não estão em caixa. A preocupação é a mesma entre os militantes da 17ª Parada do Orgulho LGBT de Madureira, que chegou a ser marcada para 16 de julho, mas teve que ser adiada para 29 de outubro por falta de apoio.

Com ou sem dinheiro, o Grupo Arco-Íris, organizador da Parada em Copacabana, promete que o protesto vai ocorrer. O diretor sócio-cultural do grupo, Julio Moreira, prevê que, sem arrecadação, a parada pode ser uma marcha com bandeiras, faixas e cartazes, o que mantém a reivindicação pelo respeito à diversidade:

"Tendo recurso ou não tendo recurso, a gente vai botar o bloco na rua. Em formato mesmo de manifestação, a gente vai seguir com o nosso público lá. Agora, se a gente não tiver recurso, não vai ter estrutura como a dos últimos anos, com trio elétrico, artista, mas a gente vai manter a manifestação até como forma de protesto contra o não investimento do Poder Público na parada".

A Parada LGBT de Copacabana foi autorizada pela prefeitura no ano passado a captar recursos privados de apoiadores, que abatem o patrocínio de parte do valor devido ao Imposto Sobre Serviço (ISS). O município disponibilizou cerca de R$ 57 milhões em renúncia fiscal para todos os projetos deste ano.

Entre os incentivadores que estão em negociação com a parada carioca estão patrocinadores da Parada LGBT de São Paulo, a maior do país, mas os acordos ainda não estão garantidos. Ao menos R$ 500 mil são necessários para que a Parada de Copacabana ocorra nos moldes dos últimos anos, pois, mesmo que cantores e bandas abram mão do cachê, é preciso custear a estrutura de trios elétricos, som e segurança do evento.

Recursos públicos

Além desse dinheiro, o ato costumava contar com recursos diretos da prefeitura, segundo o Grupo Arco-Íris, por meio de secretarias que promovem suas políticas públicas durante a parada. "Ela é um evento de visibilidade das próprias ações de políticas públicas da prefeitura. Por isso, ela fechava um convênio com a gente, porque ela também usava a parada para expor o que ela vinha produzindo sobre o tema", diz Moreira.

Segundo o organizador, a parada é um investimento para o Poder Público e não um gasto. "Ela traz um impacto econômico na cidade. A prefeitura não investe um recurso que é perdido, ela investe em um evento em que ela tem retorno de ISS. Por mais que hoje a gente não possa mensurar isso, a gente vê que, se as pessoas gastam em média R$ 30 na parada, até 1 milhão de pessoas gastando R$ 30, tem ISS".

Madureira

Em Madureira, a falta de convênio neste ano pegou os organizadores de surpresa. Fundadora do evento e presidente do Movimento de Gays, Travestis e Transformistas, Loren Alexander diz que a Parada de Madureira sequer se inscreveu no ano passado para captar do Edital do ISS porque contava com o aporte direto. Em meio à crise que afeta o tradicional comércio de Madureira, ela espera que grandes empresas sejam o socorro para a parada mais antiga do subúrbio do Rio.

"O comércio está em crise, se não buscarmos com grandes empresas, não vamos conseguir o dinheiro. Temos um público grande, uma mídia grande e personalidades que são solidárias à nossa causa. Temos uma história dentro do subúrbio do Rio de Janeiro, uma história construtiva de luta", diz. "A certeza que temos é que vamos lutar".

A Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual (Ceds) da Prefeitura do Rio de Janeiro e a Riotur tentam atrair recursos privados para as oito paradas LGBT que estão programadas para outubro no Rio de Janeiro. Além das duas maiores, há eventos previstos para Vila da Penha, Del Castilho, Caju, Maré e outras regiões da cidade.

Na última quarta-feira (26), a prefeitura decretou que o Rio terá pela primeira vez o "Mês da Diversidade", e, como os eventos fazem parte do calendário, empresas estão sendo convidadas a apoiar todas as paradas e o restante da programação como patrocinadoras. O coordenador da Ceds, Nélio Georgini, acredita que esse modelo levará mais apoio às paradas menores neste ano e vai prepará-las para disputar os editais de ISS, em que as marchas terão que concorrer com todos os eventos culturais da cidade para ter recursos de incentivo.

"Existia um modelo de gestão anterior, que era feito por inexigibilidade [sem licitação]. Esse modelo funcionou durante um período X. A gente vai incentivar pelos editais de incentivo", disse Georgini, que destacou que a prefeitura está sem dinheiro para fazer outros tipos de aportes em eventos. "Estamos tentando encontrar, de forma objetiva e criativa, soluções para que os eventos possam acontecer. Não adianta mais falar da questão do dinheiro. Não tem. Essa é uma questão vencida para mim desde que assumi o cargo".

Para 2018, a Parada LGBT de Madureira foi a única que já garantiu a possibilidade de incentivo pelo ISS. O projeto apresentado pela Parada de Copacabana foi reprovado por não apresentar contrapartidas exigidas desde 2013, segundo a Secretaria Municipal de Cultura. O Grupo Arco-Íris afirma que é a primeira vez que a reprovação ocorreu e submeteu nesta semana uma segunda versão do projeto para aprovação. O resultado será divulgado até o dia 30.

Maré

A Ceds promete que, como integrantes do Mês da Diversidade, as paradas serão apoiadas com serviços públicos, o que vai beneficiar também as pequenas paradas. Organizador da Parada da Maré, que ocorre há dez anos na Vila do João, Alberto Araújo Duarte conta que o que sempre faltou para sua manifestação foi verba.

"O que eu preciso é verba. Nunca me deram nem um centavo em 10 anos. Enquanto não me derem ajuda, não boto o nome de ninguém e não faço propaganda", diz o cabeleireiro, que reuniu 40 mil pessoas no ato do ano passado.

A Parada LGBT da Maré foi a primeira a ocorrer dentro de uma favela do Rio de Janeiro e conta anualmente com o apoio de comerciantes e empresas da região, que ajudam com banheiros químicos e suprimentos para as atrações e convidados. "A comunidade abraçou maravilhosamente a proposta. Me pedem para fazer duas por ano", comemora ele, que bate de porta em porta no comércio para pedir apoio e vende bebidas em barracas para arrecadar dinheiro. "Eu passo uma lista para pedir ajuda. Tem que pagar trio, DJ, drag. Os comerciantes ajudam".

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