Senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) durante discurso no plenário do Senado Federal, em Brasília (Geraldo Magela/Agência Senado/Divulgação)
Marcelo Ribeiro
Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 17 de janeiro de 2017 às 10h12.
Brasília - Longe de ser unanimidade dentro do PMDB, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) conseguiu se consolidar como principal candidato da sigla à presidência do Senado. A eleição para escolher o sucessor de Renan Calheiros (PMDB-AL) acontecerá no início de fevereiro.
Para fortalecer sua candidatura, o peemedebista se aliou ao PSDB - principal partido da base governista do presidente Michel Temer (PMDB) - e flertou até mesmo com o PT, legenda de oposição ao governo.
Segundo interlocutores de Eunício, o parlamentar, consciente da resistência de alguns correligionários a sua indicação ao comando da Casa, optou por uma estratégia distante da convencional: conquistar apoio de outros partidos antes de consolidar sua candidatura dentro da própria sigla.
Um dos primeiros alvos de Eunício teria sido o PT. Alguns parlamentares, como a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Faria (PT-RJ), teriam resistido a estratégia de apoiar o peemedebista. Motivo: ele foi um dos principais articuladores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) dentro do Senado.
O poder, porém, teria falado mais alto que o orgulho, de acordo com fontes próximas aos petistas. Mas por que o partido decidiu bater o martelo sobre o apoio ao peemedebista? “O PT seguiu orientação do ex-presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] e fechou apoio a Eunício para garantir cargos na Mesa Diretora do Senado e nas comissões da Casa“, disse um interlocutor do peemedebista a EXAME.com.
O principal temor do ex-presidente era que o PT se enfraquecesse ainda mais após as disputas na Câmara e no Senado. Com o apoio a Eunício, os petistas garantiriam a primeira secretaria da Mesa. Além disso, teriam o comando das comissões de Direitos Humanos e de Assuntos Sociais.
Próximo ao ex-presidente Lula, Eunício teria poupado Dilma na segunda etapa da votação do impeachment no Senado - a fase que manteve os direitos políticos da petista. Interlocutores do peemedebista admitem que esse teria sido o primeiro aceno de Eunício para conquistar o apoio do PT.
Auxiliares do PMDB explicaram que as negociações com o PSDB foram feitas com os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes (PSDB-SP). O apoio dos tucanos garantirá a eles a primeira-vice-presidência do Senado. O cargo deve ficar com o ex-líder do partido Paulo Bauer (PSDB-SC).
Além disso, a comissão de Assuntos Econômicos também deve ir para os tucanos. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) já teria sido escolhido pelos correligionários para assumir a presidência do colegiado.
Considerado um dos peemedebistas mais polêmicos, Roberto Requião (PMDB-PR) foi contundente ao afirmar que a eleição de Eunício não pode ser vista como algo consolidado. “Antes de qualquer coisa, precisamos fazer uma reunião da bancada. Só depois disso ele pode se colocar como futuro presidente do Senado pela proporcionalidade”, disse Requião.
O parlamentar disse ainda que a indicação de Eunício tem o apoio de Temer, mas precisa ser endossado pelos correligionários dentro do Senado. “A articulação começou há muito tempo. Renan deu protagonismo a Eunício e a [Romero] Jucá. Ele direcionou tudo para eles. Fica difícil fugir dessa realidade, mas nada está decidido”, concluiu Requião, que pretende apresentar contraditório caso Eunício seja a única opção do partido.