O governador de Goiás Marconi Perillo: em seu depoimento, Perillo negou ter vendido a casa para Cachoeira (Geraldo Magela/Agência Senado)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2012 às 14h34.
Brasília - Após ouvir o depoimento do arquiteto Alexandre Milhomen, o relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), concluiu que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mentiu em depoimento prestado à comissão no dia 12 de julho.
De acordo com o relator, Perillo teria "montado" a história da venda da casa para esconder sua relação com o empresário Antônio Carlos de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, apontado pela Polícia Federal como líder de uma organização criminosa que envolve políticos e empresários.
Ao ser indagado se o governador teria mentido em seu depoimento, Cunha respondeu: "Com certeza. Está evidente que a história foi uma história montada. A história da casa é para negar a relação do governador com o senhor Carlos Cachoeira", disse o relator.
Milhomen disse à CPMI que foi contratado por Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, para decorar a casa na qual que ela moraria provisoriamente. Pelo serviço, o arquiteto disse ter recebido R$ 50 mil, pagos em cinco parcelas de R$ 10 mil. O arquiteto também calculou que as compras de móveis e objetos de decoração para a casa somaram cerca de R$ 500 mil, pagos por Andressa.
"Quem comprou a casa foi o senhor Carlos Cachoeira, os áudios mostram isso, e aqui o arquiteto disse que quem o contratou foi a senhora Andressa", disse o relator.
As gravações interceptadas pela Polícia Federal indicam que os serviços prestados pelo arquiteto foram contratados em maio de 2010, antes que ocorresse a negociação do imóvel da forma que o governador informou à comissão. Em fevereiro desse ano, a Polícia Federal prendeu Cachoeira nessa casa.
Perillo, em seu depoimento, negou ter vendido a casa para Cachoeira. Ele disse que vendeu o imóvel ao empresário Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão. "Está evidenciado que a prestação do serviço foi antes da aquisição da casa pelo senhor Walter Paulo e que quem contratou o arquiteto foi o senhor Carlos Cachoeira, para fazer uma decoração vultosa que custou mais de R$ 500mil com a aquisição de móveis”, disse o relator.
O relator avaliou que não há necessidade de se tomar um novo depoimento de Perillo. "Nós vamos agora continuar buscando meios de prova para desmontar a tese aqui desenhada, a historia montada pelo governador Marconi Perillo”, afirmou.
Segundo Odair Cunha, “fica cada vez mais evidente pelos áudios da Polícia Federal, que dão conta que Carlos Cachoeira queria comprar a casa em fevereiro, que dão conta da preocupação de Carlinhos Cachoeira com a casa estar no seu nome em abril, que dão conta da decoração dessa casa, que dão conta de que Cachoeira queria vender a casa no final de junho e no começo do mês de julho".
Outro ponto confirmado pelo arquiteto durante o depoimento é que parte do pagamento pela decoração foi paga pela empresa Alberto e Pantoja, que, segundo a Polícia Federal, recebeu repasses da Delta Construções, investigada como parte do esquema atribuído a Carlinhos Cachoeira.
O relator informou que os próximos passos da CPMI buscarão estabelecer os vínculos de Cachoeira dentro da estrutura do governo de Goiás. Ele rebateu as críticas de outros parlamentares que o acusam de direcionar as investigações da comissão para o governador Marconi Perillo.
"Nós, aqui, não queremos defender governador nenhum. Nós temos uma organização criminosa que se apoderou do aparelho de segurança pública do estado, que ameaça promotores, que ameaça juízes, e vamos continuar investigando essa organização criminosa. Quem quer defender a organização criminosa, a turma do Cachoeira, vai ter que vir aqui", destacou, referindo-se às críticas feitas principalmente pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Cunha evitou falar sobre os requerimentos de convocação do ex-diretor da matriz da empresa Delta, Fernando Cavendish, e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Luiz Antônio Pagot. As duas convocações vêm sendo defendidas na CPMI pelos parlamentares de oposição. "Vamos tratar desse assunto só no próximo dia 5 de julho", limitou-se a responder o relator, referindo-se à próxima reunião administrativa da CPMI.