Joesley Batista deixa Polícia Federal, em Brasília. 11 de setembro de 2017 REUTERS/Ueslei Marcelino (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 08h58.
São Paulo - A direção nacional do PT e a cúpula do PSDB convergiram na avaliação de que as últimas revelações envolvendo o Grupo J&F enfraqueceram a delação premiada do empresário Joesley Batista.
Segundo dirigentes dos dois partidos, que têm políticos investigados com base em delações, a atuação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também pode ser questionada.
"Os últimos acontecimentos mostram que atitudes do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário colocam em questionamento toda a prática da delação, de como está se utilizando de forma errada o instrumento da delação que é correto e foi criado no governo do PT", disse o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos vice-presidentes do PT.
Na semana passada, Janot pediu investigação sobre um áudio, supostamente gravado por acidente, com conversas entre Joesley e o executivo Ricardo Saud, na qual eles mencionam que o advogado Marcello Miller, quando era procurador, teria atuado para garantir facilidades aos delatores junto à Procuradoria-Geral da República.
Reservadamente, dirigentes petistas admitem que, em tese, os novos fatos em torno da delação da J&F podem beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo estes petistas, a sentença do juiz federal Sérgio Moro, que condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP), tem como peça fundamental a delação do empresário José Aldemário Pinheiro, o Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e que o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), que vai julgar o recurso do ex-presidente, já absolveu outros réus da Lava Jato alegando que a delação precisa ser acompanhada de provas.
Para os petistas, o caso da J&F pode reverter a pressão de parte da opinião pública sobre os desembargadores do TRF-4 por uma segunda condenação de Lula, que tiraria o petista da disputa presidencial de 2018.
Em caráter reservado, lideranças tucanas próximas ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) avaliam que a "gravação acidental" de Joesley Batista reforça a narrativa que houve uma "armação" no diálogo entre ele e o empresário, na qual se falou sobre um empréstimo de R$ 2 milhões.
O ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do PSDB, prefere não opinar diretamente sobre uma eventual anulação da delação, mas questiona Janot. "A delação do Joesley está sob forte suspeita e questionamento", disse ele.
Para Aníbal, houve "açodamento" da Procuradoria-Geral da República e o procurador agiu para "desestabilizar o governo e inviabilizar as reformas estruturais".
Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem o instituto da delação premiada. "O fato de que a pessoa (Joesley Batista) foi um pouco fanfarrona - e é, bastante - não é suficiente para anular (a delação) se os indícios levarem a alguma coisa mais concreta que a palavra dele."
Em entrevista concedida após um almoço com empresários em São Paulo, FHC disse que a delação "funciona nos Estados Unidos e funciona bem". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.