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Para pesquisadora, militares não querem retomar o poder

Para cientista política, Temer se aproxima dos militares porque eles "emprestam" credibilidade ao presidente

Militares em operação em favela do Rio de Janeiro no dia 20 de fevereiro de 2018. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Militares em operação em favela do Rio de Janeiro no dia 20 de fevereiro de 2018. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de março de 2018 às 09h57.

Rio de Janeiro - As Forças Armadas não querem poder, analisa a cientista política Maria Celina D'Araújo, em entrevista ao Estado. Para a pesquisadora, os militares poderão pagar um preço alto por estar à frente da segurança do Rio caso a intervenção fracasse. Ela vê como apenas circunstancial o protagonismo militar no País, na esteira da ação no Estado e da nomeação do primeiro militar para ministro da Defesa em 20 anos.

Maria Celina afirma que Temer dá uma "resposta-espetáculo" recorrendo às Forças Armadas, que, para ela, "têm a credibilidade que ele não tem", diz Celina, que é doutora em Ciência Política, professora da PUC-Rio e tem entre seus temas de pesquisa a ditadura brasileira e as relações entre civis e militares.

"Elas estão cumprindo uma missão que foi dada pelo poder político, que é parte do sistema de corrupção. Têm sido desmoralizadas em muitas ocasiões: chegam e o bandido já foi, a arma sumiu. Não creio que seja um papel que as Forças Armadas brasileiras queiram para si."

O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, afirmou ao Estado que os militares não buscam esse protagonismo, que é mera circunstância.

Concordo com ele. O envolvimento das Forças Armadas com a segurança pública no Rio não pode ser permanente, segundo a Constituição. Eles têm que sair. E tem os outros Estados dizendo "eu também quero". Além disso, não creio que haja um projeto político das Forças Armadas de retomar as rédeas do poder.

Então, o que explica o protagonismo militar no atual governo?

O protagonismo se acentuou com a intervenção na segurança. O ministro da Defesa é interino, não é definitivo, mesmo porque Marinha e Aeronáutica não aceitam um ministro do Exército. Um civil voltará. O (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio) Etchegoyen não é novidade. O que tem de novo é que a rubrica mudou, não é mais GLO (Garantia da Lei e da Ordem), é intervenção. E com isso muda também a responsabilidade das Forças Armadas.

A manutenção de um militar no Ministério da Defesa não seria um passo atrás?

Seria. Mas, por enquanto, é um interino. De qualquer forma, o ministro civil não significa subordinação das Forças Armadas ao poder civil. Elas estão afastadas de um projeto de tomada do poder, isso é verdade, mas elas continuam tendo voz própria para defender seu sistema de pensões, seu orçamento. Não tem um ministro que os convença que eles vão entrar nas reformas, por exemplo.

O que pode decorrer de um eventual fracasso da atuação das Forças Armadas na segurança no Rio?

Se os militares forem desmoralizados, a quem se vai recorrer? Qual vai ser a solução? Eles são vistos pela população como o recurso final. Temos uma intervenção com grande probabilidade de fracassar, porque os militares têm o melhor serviço de inteligência sobre o tráfico, mas isso não significa necessariamente fazer bom uso da informação.

O que explica os militares ainda sejam vistos como solução no Brasil mesmo após a ditadura?

Para a maioria da população, os militares não estão associados com a ditadura. Não se considera sequer que tenha sido um momento tão importante da história. Nós gostamos de esquecer, de passar a mão na cabeça. E também a escala da violência não atingiu todas as famílias. Existe ainda a ideia de que os militares são moralmente superiores, não corrompem e não são corrompidos. A gente vê grupos pedindo a volta deles, mas são ciclos: às vezes acham que tem que ter mais abertura e liberdade, e, nos momentos de explosão da violência, que é preciso usar mais força.

Militares podem fazer bem o papel de polícia?

Acho que até podem, se forem treinados para isso. Fala-se muito da militarização da polícia, mas o mais importante é entender que há uma policialização dos militares. O limite entre o que é segurança pública e o que é defesa nacional está ficando cada vez mais diluído.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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