Presidente Michel Temer (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 29 de maio de 2017 às 13h31.
Última atualização em 29 de maio de 2017 às 13h35.
São Paulo – Com seu mandato por um fio desde que o conteúdo das delações dos executivos do grupo J&F vieram à tona, a situação do presidente Michel Temer hoje é menos frágil do que a enfrentada por Dilma Rousseff em 2016 — embora ninguém nunca tenha acreditado que ele fosse um santo, segundo editorial do jornal britânico Financial Times publicado neste domingo.
O periódico lembra que, mesmo antes de assumir a Presidência, Temer era conhecido como um negociador de bastidores, “contaminado” pelas investigações da Operação Lava Jato. “Mesmo que seu governo não fosse menos corrupto que o de [Dilma] Rousseff, era mais competente e desfrutava de apoio no Congresso”, diz o texto.
De acordo com a publicação, é justamente por esse aspecto que o governo Temer ganhou sobrevida nos últimos dias. Por um lado, diz o editorial, “as elites políticas e econômicas sabem que uma recuperação permanente depende das reformas” do peemedebista.
Por outro, segundo o texto, a base aliada até está desmoronando, “mas ainda não entrou em colapso” basicamente porque a sucessão do peemedebista ainda não está clara – diferentemente do que aconteceu com Dilma Rousseff, que tinha um vice-presidente “ávido” para tomar seu lugar.
Mas o jornal pondera que Temer está perdendo apoio rapidamente e que “sua permanência na Presidência pode ser mais uma razão para a crise do que uma solução".
Para o jornal, o próprio presidente deve ter consciência desse fato e estaria só alongando sua estada no Planalto em busca de um horizonte parecido com o perdão presidencial conferido pelo presidente americano George Ford a Richard Nixon, que renunciou à Casa Branca após o escândalo de Watergate.
Apesar do peso político de duas deposições presidenciais em menos de um ano, o jornal britânico afirma que os mercados parecem calmos diante da aposta de que, independentemente de quem assumir o lugar de Temer, não há outro caminho para o Brasil senão a continuidade das reformas econômicas.
Politicamente, contudo, o futuro ainda não parece tão claro. “A percepção popular é de uma elite [política] mais interessada em escapar da cadeia do que em governar. Esse é um caminho perigoso que pode dar abertura para oportunistas e populistas em 2018”, diz o texto. Fato que leva o Financial Times a concluir que qualquer calma nos mercados não deve durar por muito tempo.