Fernando Henrique Cardoso: "Todo sistema democrático implica em um certo compartilhamento de poder, mas compartilhar poder não pode ser transformado apenas em barganha para cargos" (Branca Nunes/VEJA)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2012 às 13h45.
São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta sexta-feira que o governo de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deixou uma contribuição negativa para a cultura política brasileira, ao comentar a Operação Porto Seguro, deflagrada pela Polícia Federal, e que motivou a queda da chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa Noronha.
Em entrevista à Agência Estado, FHC lamentou a ocorrência deste tipo de prática no governo. "Todo sistema democrático implica em um certo compartilhamento de poder, mas compartilhar poder não pode ser transformado apenas em barganha para cargos. Tem de ter um projeto, uma motivação. E aqui não está compartilhando poder, está acomodando pessoas num sistema de vantagens. Isso está errado."
Nas críticas à gestão de Lula, FHC frisou: "Infelizmente, se há uma contribuição negativa que eu acho que o governo do presidente Lula trouxe, não foi na área econômica e muito menos na área social. Foi na cultura política."
Na avaliação do ex-presidente tucano houve uma espécie de regressão, de aceitação daquilo que sempre foi condenado, inclusive pelo PT, que é o patrimonialismo, o clientelismo, a troca de favores. "(Essa prática) Foi tradicional no Brasil, mas quem quer modernizar luta contra isso, não consegue fazer completamente. Mas tem de lutar contra, não pode participar desse processo", argumentou.
As declarações de FHC foram dadas com exclusividade à Agência Estado antes de ele proferir palestra, na manhã desta sexta-feira, no evento Global Cities Initiative, organizado pelo banco JP Morgan em conjunto com a Brookings e o Centro para Liderança Pública.