Fernando Henrique Cardoso: “Coalizão é quando se junta três ou quatro partidos em um objetivo comum. Mais é quando se quer cooptar para se perpetuar no poder” (Wilson Dias/ABr)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2014 às 23h47.
São Paulo – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou discurso sobre os 50 anos do golpe militar, na noite desta terça-feira, para criticar a forma como o governo de Dilma Rousseff vem realizando alianças e decidindo os rumos do país. Para FHC, a democracia instituída desde a Constituição de 88 tem mais consistência que os momentos democráticos anteriores, mas a “forma como ela está se consolidando é complicada”.
“São mais de 30 partidos, 39 ministérios. Há uma demora nas decisões e uma dificuldade de fazer o Congresso entrar na agenda nacional”, disse ele, fazendo referência aos embates de Dilma com o poder Legislativo.
Para o ex-mandatário, a história brasileira mostra que não adianta esquecer o Congresso nem tentar anulá-lo, pelo seu importante papel na democracia e na balança entre os poderes.
“A sociedade é outra hoje. Ninguém pode fazer nada sozinho. Tem que ter mais capacidade de ouvir, mas institucionalmente é difícil se submeter à crítica contínua”, afirmou o ex-presidente, ainda em críticas veladas à Dilma.
FHC acredita que há também traços não democráticos na maneira como o governo vem defendendo obras faraônicas, como o trem-bala e Transamazônica - característica que parece uma volta ao passado, segundo ele - além da enorme base aliada conquistada no parlamento.
“Coalizão é quando se junta três ou quatro partidos em um objetivo comum. Mais é quando se quer cooptar para se perpetuar no poder”, avalia.
Militares no poder
FHC esteve nesta terça em seminário sobre os 50 anos do golpe militar organizado pelo Cebrap, centro de estudos criados por professores da USP no auge da repressão. Ele disse que a tomada de poder foi parte de uma atuação política dos militares no Brasil que perpassou todo o século XX, o que sempre deixou presidentes em situações delicadas, até vir o golpe de 64.
Ele defende, porém, que as mudanças vividas pelo Brasil e pelas próprias forças armadas anulam risco de episódio semelhante em período próximo, embora a democracia seja um valor a ser sempre vigiado.
“Essa ideologia antiga de que só os militares podem levar o país adiante não tem mais apelo”, defendeu.