Congresso: deputados afirmam que eleitores rejeitam a proposta porque a associam à imagem negativa do governo (Pedro França/Agência Senado/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 21h25.
Brasília - Ao contrário do que diz o Palácio do Planalto, a população ainda resiste à reforma da Previdência e questiona os números apresentados pelo governo para justificar a urgência da mudança no sistema.
A afirmação é de deputados da própria base aliada do governo, que passaram as últimas semanas do recesso em contato mais intenso com o eleitorado.
Eles admitem que essa pressão tende a pesar no voto caso o tema realmente seja colocado em votação no plenário da Câmara em fevereiro.
Deputados contaram ao Estadão/Broadcast que alguns eleitores rejeitam a proposta porque a associam à imagem negativa do governo.
Na avaliação desses eleitores, o sistema previdenciário se tornou insustentável por causa da corrupção e agora a conta chega mais pesada para a população.
"É difícil convencer alguém do contrário. É difícil separar as coisas para o eleitor porque está impregnado (o conceito)", disse o deputado Marcos Rogério (DEM-RO).
"O fato de (o governo) estar envolvido em coisa errada deslegitima até as medidas acertadas", emendou o deputado.
Na Bahia, o deputado José Carlos Araújo (PR-BA) disse que não há como vender o "produto" porque a população liga os escândalos de corrupção ao governo do presidente Michel Temer. "O eleitor diz que se não tivessem roubado, não iríamos para o sacrifício", contou.
Segundo Araújo, seus eleitores acham que a reforma vem em forma de "conta" para o brasileiro pagar, ao invés de a União cobrar dos grandes devedores da Previdência.
"O povo ainda não está convencido e a gente tem medo de ser execrado pelo eleitor. O governo precisa convencer o povo para que a gente vote confortavelmente", afirmou o parlamentar.
Araújo disse que vem recebendo mensagens de texto de eleitores no celular recomendando que ele rejeite a proposta, sob risco de não ser reeleito em outubro se votar a favor da reforma.
Os deputados, principalmente os que pretendem disputar a reeleição, costumam aproveitar as férias para intensificar as atividades políticas em seus Estados.
Nas andanças pelas bases eleitorais, os deputados apontam que no interior do País a propaganda do governo pró-reforma ainda é deficiente e que, embora os esclarecimentos tenham ficado mais "didáticos" onde chegam, o governo perdeu a batalha inicial da comunicação.
Agora, dizem os deputados, é difícil reverter a percepção de que o projeto é prejudicial aos trabalhadores.
"O eleitor, sobretudo do Piauí, é contrário à reforma da Previdência. Ficou na cabeça das pessoas que o texto é contra o povo. E é difícil mudar a cabeça das pessoas. Não sei se o governo vai conseguir reverter isso, não", resumiu o deputado Marcelo Castro (MDB-PI).
O emedebista disse ter ficado satisfeito com a retirada dos trabalhadores rurais do texto, elogiou o aumento gradual da idade mínima, mas disse que ainda não tem voto definido. "Tenho de estar convencido e em sintonia com meu eleitor", declarou Castro.
Ex-líder da bancada do PP, Eduardo da Fonte (PE) disse que já foi abordado por eleitores questionando o quanto o País paga em juros e se o que o governo gasta com a dívida não seria suficiente para cobrir a Previdência.
"O maior problema do Brasil é o que se paga de juros para rolar a dívida", comentou. Para o parlamentar, não há mais propaganda que faça o governo melhorar o conceito da população pernambucana sobre a reforma. "Não posso votar contra o meu eleitor", afirmou.
No Distrito Federal, um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) disse que é comum a desconfiança dos eleitores sobre os números deficitários da Previdência.
Ele considera que o Executivo errou ao produzir um texto inicial "muito duro" e ao eleger os servidores como foco dos privilégios que a nova Previdência pretende atacar. "O uso do servidor como algoz foi um tiro no pé", considerou.
Rosso e o líder do PR na Casa, José Rocha (BA), concordam que hoje o governo ainda está longe de garantir os 308 votos necessários para aprovar uma emenda à Constituição, por isso ambos têm dúvidas se a PEC será realmente votada em fevereiro.
Rocha, no entanto, observa que o calendário é limitado, já que as atividades parlamentares começam em período de carnaval, depois em março haverá a janela de trocas partidárias e, em abril, se encerra o prazo de desincompatibilização para quem pretende deixar o Executivo para disputar a eleição. "Depois, para dar quórum com segurança neste período não será fácil", disse Rocha.